Inquérito à Situação Financeira das Famílias

O Banco de Portugal e o Instituto Nacional de Estatística realizam o Inquérito à Situação Financeira das Famílias (ISFF), a única fonte de informação em Portugal que permite caraterizar detalhadamente a distribuição da riqueza e da dívida das famílias residentes no país.
Qual o impacto da pandemia na situação financeira das famílias?
Algumas questões que o ISFF permite responder
O Inquérito à Situação Financeira das Famílias (ISFF) recolhe, aproximadamente de três em três anos desde 2010, informação detalhada sobre a riqueza, as dívidas e os rendimentos das famílias residentes em Portugal, com base numa amostra representativa. Este inquérito recolhe também informação sobre aspetos demográficos e sociais, sobre consumo e poupança e ainda sobre comportamentos, designadamente atitudes e expetativas.
A implementação do ISFF é da responsabilidade do Banco de Portugal e do Instituto Nacional de Estatística.
O ISFF faz parte do projeto europeu Household Finance and Consumption Survey (HFCS) que produz informação comparável para os países da área do euro. O HFCS é desenvolvido pelo grupo de trabalho Household Finance and Consumption Network (HFCN), coordenado pelo Banco Central Europeu.
O HFCS surgiu da necessidade de os bancos centrais do Eurosistema disporem de informação de natureza microeconómica sobre as famílias para a realização de estudos relevantes para a condução da política monetária e manutenção da estabilidade financeira na área do euro. Embora alguns países, entre os quais Portugal, já recolhessem este tipo de dados, as diferenças de conteúdo, de metodologia e de frequência dos inquéritos nacionais dificultavam as comparações e praticamente impossibilitavam a obtenção de variáveis agregadas para a área do euro.
O ISFF é a única fonte de informação em Portugal que permite caraterizar detalhadamente a distribuição dos ativos reais, dos ativos financeiros e das dívidas das famílias, de acordo com dimensões como a idade, o nível de escolaridade, a situação no mercado de trabalho e o rendimento da família. Estes dados são úteis para avaliar o impacto de alterações nos determinantes do consumo, da poupança, do investimento e do endividamento das famílias. Em particular, a análise do comportamento de diferentes subgrupos da população é essencial para melhorar a compreensão destes fenómenos.
Resultados
Os resultados do ISFF são divulgados, em primeira mão e de forma conjunta, pelo Banco de Portugal e pelo Instituto Nacional de Estatística. Em cada edição, são divulgados uma nota de destaque e um ficheiro Excel com os principais resultados relativos à distribuição da riqueza e da dívida das famílias residentes em Portugal.
As notas de destaque do ISFF podem ser consultadas aqui: 2010, 2013, 2017 e 2020.
As tabelas com os principais resultados podem ser obtidas aqui: 2010, 2013, 2017 e 2020.
A edição de 2020 incluiu um módulo de perguntas sobre o impacto da pandemia na situação financeira das famílias. Podem ser consultados aqui os resultados deste módulo: Nota de destaque e Tabelas.
Os principais resultados do ISFF são analisados com maior detalhe nos seguintes estudos:
- Costa, S. , Farinha L., Martins, L. e Mesquita, R. (2020). "Inquérito à Situação Financeira das Famílias: resultados de 2017 e comparação com as edições anteriores", Banco de Portugal, Revista de Estudos Económicos, Vol. 6, n.º 1.
- Costa, S. (2016). “Situação financeira das famílias em Portugal: uma análise com base nos dados do ISFF 2013”. Banco de Portugal, Revista de Estudos Económicos, Vol. 2, n.º 4.
- Costa, S. e Farinha, L. (2012). “Inquérito à Situação Financeira das Famílias: Metodologia e Principais Resultados”. Banco de Portugal, Occasional Papers, 1.
Os resultados para os países que fazem parte do Household Finance and Consumption Survey (HFCS) são divulgados no site do Banco Central Europeu. Em cada edição, são publicados um relatório de análise dos resultados para a área do euro, um relatório metodológico e um conjunto de tabelas com os principais resultados para todos os países.
Publicações
O Banco de Portugal divulga outros estudos e outras análises de diversa natureza que têm por base o ISFF. Em particular, os dados têm sido utilizados em análises que ajudam à compreensão dos comportamentos económicos individuais e da evolução de variáveis agregadas, nomeadamente em matéria de consumo, poupança, investimento e financiamento. Estes dados são cruciais para avaliar o impacto de choques, de políticas e de alterações institucionais sobre estas variáveis. A informação sobre o comportamento de subgrupos da população é, igualmente, essencial para a melhoria desta avaliação.
- Banco de Portugal (2022). "Efeito da inflação e da subida das taxas de juro sobre a situação financeira das famílias", Caixa 4 do Boletim Económico de dezembro.
- Banco de Portugal (2022). "Efeitos distributivos sobre as famílias da evolução económica recente", Tema em destaque do Boletim Económico de outubro.
- Banco de Portugal (2021). "A poupança das famílias durante a crise pandémica", Caixa 3 do Boletim Económico de dezembro.
- Costa, S., Farinha L., Martins, L. e Mesquita, R. (2021). "A riqueza das famílias em Portugal e na área do euro", Banco de Portugal, Revista de Estudos Económicos, Vol. 7, n.º 4.
- Costa, S., Farinha L., Martins, L. e Mesquita, R. (2020). "Famílias proprietárias de negócios em Portugal e na área do euro: caracterização e exposição à crise pandémica", Banco de Portugal, Revista de Estudos Económicos, Vol.6, n.º 4.
- Banco de Portugal (2020). "A situação financeira das famílias portuguesas nos períodos pré-crise", Caixa 3 do Relatório de Estabilidade Financeira de junho.
- Banco de Portugal (2020). "O impacto económico da crise pandémica", Tema em destaque do Boletim Económico de maio.
- Banco de Portugal (2020). "Propensão a consumir em Portugal e na área do euro: uma análise com dados de inquérito", Caixa 7 do Boletim Económico de maio.
- Martins, L. (2020). "Imputation of the Portuguese Household Finance and Consumption Survey", Banco de Portugal, Occasional Paper, 2.
- Banco de Portugal (2018). “Distribuição da dívida e do rendimento das famílias portuguesas”, Caixa 4 do Boletim Económico de maio.
- Banco de Portugal (2017). “A vulnerabilidade financeira das famílias portuguesas”, Caixa 4 do Relatório de Estabilidade Financeira de dezembro.
- Banco de Portugal (2017). “Efeito de um aumento da taxa de juro no rendimento das famílias: heterogeneidade por classes de idade e quartis do rendimento”, Caixa 3 do Boletim Económico de dezembro.
- Banco de Portugal (2017). “Mecanismos distributivos da política monetária na economia portuguesa”, Tema em destaque do Boletim Económico de maio.
- Banco de Portugal (2016). “Uma interpretação da evolução da taxa de poupança das famílias em Portugal”, Tema em destaque do Boletim Económico de maio.
- Costa, S. (2012). “Probabilidade de incumprimento das famílias: uma análise com base nos resultados do ISFF”. Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira de novembro.
- Costa, S. e Farinha, L. (2012). “O endividamento das famílias: uma análise microeconómica com base nos resultados do Inquérito à Situação Financeira das Famílias”. Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira de maio.
Os estudos publicados pelo Banco Central Europeu e por outros bancos centrais nacionais podem ser consultados aqui.
Questionário
O questionário do ISFF baseia-se num modelo acordado pelo grupo de trabalho europeu Household Finance and Consumption Network (HFCN).
Em linha com o modelo harmonizado, o questionário do ISFF inclui uma entrevista principal sobre a situação financeira da família, e três conjuntos adicionais de perguntas. Antes da entrevista principal, existe um conjunto de questões que se destinam essencialmente a verificar que o alojamento selecionado é uma residência principal, a definir o agregado familiar relevante e a identificar o principal respondente, ou seja, o indivíduo que melhor conhece a situação financeira da família. No final da entrevista, o questionário inclui algumas perguntas que visam avaliar a perceção do entrevistado sobre o inquérito. Inclui, ainda, uma série de questões dirigidas ao entrevistador sobre a sua perceção relativamente à entrevista, sobre a atitude do entrevistado e sobre as caraterísticas gerais do alojamento.
A unidade de referência principal do ISFF é a família. Deste modo, a maior parte das perguntas da entrevista principal referem-se à família como um todo, devendo ser respondidas pela pessoa que melhor conhece a situação financeira da mesma. Existem também perguntas que se referem especificamente aos indivíduos que compõem a família e que, de preferência, devem ser respondidas pelos próprios se tiverem 16 anos ou mais.
O período de referência para as perguntas sobre ativos e dívidas é o momento da entrevista, no caso do rendimento é o ano civil anterior à entrevista e no caso do consumo é o mês típico, considerando os 12 meses anteriores à realização da entrevista.
O diagrama seguinte apresenta, em traços gerais, a sequência da entrevista principal e o conteúdo das diversas secções temáticas:
Os questionários das diferentes edições do ISFF podem ser consultados aqui: 2010, 2013, 2017 e 2020.
Outros aspetos metodológicos
O inquérito realizado nos vários países segue um conjunto de princípios metodológicos, baseados nas melhores práticas internacionais, acordados pela HFCN. O objetivo é obter dados de elevada qualidade e harmonizados entre os países. Os princípios metodológicos seguidos no ISFF abrangem vários aspetos da implementação do inquérito, nomeadamente a seleção da amostra, a realização das entrevistas ou o tratamento posterior dos dados.
Na seleção da amostra, procura-se que estejam sobrerrepresentadas as famílias dos escalões superiores da riqueza. Como a riqueza tem uma distribuição muito assimétrica, ou seja, a maior parte da riqueza é detida por uma percentagem muito pequena da população, a correta caraterização da riqueza das famílias não pode basear-se numa amostra assente apenas em critérios geográficos, como é habitual nos inquéritos às famílias sobre outras temáticas.
A amostra do ISFF é constituída por alojamentos familiares de residência principal. A dimensão da amostra foi fixada em 8000 alojamentos nas edições de 2010, 2013 e 2017 e em 14814 alojamentos na edição de 2020. Os dados finais relativos a entrevistas conseguidas englobam na primeira, segunda, terceira e quartas edições, respetivamente, 4404 famílias (11 126 indivíduos), 6207 famílias (16 513 indivíduos), 5924 famílias (15 079 indivíduos) e 6107 famílias (15 077 indivíduos).
Nas três primeiras edições do ISFF as entrevistas foram efetuadas presencialmente. Na edição de 2020 existiram dois modos de recolha alternativos: por telefone e via web. Dada a complexidade do questionário, as entrevistas são assistidas por computador, utilizando um programa informático especificamente desenhado para este inquérito. O programa inclui testes de consistência e de plausibilidade das respostas, os quais ajudam a evitar possíveis erros na condução da entrevista.
Finalizadas as entrevistas a informação é sujeita a um processo de tratamento de dados. Numa primeira fase, de edição, a informação é analisada quanto à sua coerência e plausibilidade. Adicionalmente, é efetuado o tratamento das respostas em falta, cuja origem se deve sobretudo ao facto de os entrevistados poderem dizer que não sabem ou não desejam responder. Nesta fase, de imputação, as respostas em falta na maior parte das variáveis do ISFF são preenchidas com valores estimados, a partir da informação recolhida, utilizando um método estocástico de imputação múltipla. Este método, aplicado no ISFF, encontra-se descrito em detalhe em Martins (2020) (apenas em inglês).
Finalmente, os dados do ISFF são sujeitos a um processo de anonimização que assegura que as famílias ou os indivíduos participantes no inquérito não podem ser identificados a partir das respostas dadas. Neste processo, variáveis que tenham valores extremos muito pouco frequentes, como por exemplo a idade, são truncadas num valor máximo ou mínimo. Outro exemplo é o arredondamento, que é feito com base num procedimento aleatório, dos valores das variáveis monetárias contínuas. Nas variáveis categóricas, com categorias pouco frequentes, procede-se à agregação de algumas destas.
Uma descrição mais detalhada dos diferentes aspetos metodológicos do ISFF pode ser consultada aqui.
Acesso aos dados
As bases de dados anonimizadas do ISFF para Portugal e do Household Finance and Consumption Survey (HFCS) para todos os países participantes, incluindo Portugal, podem ser disponibilizadas a investigadores com afiliação numa universidade ou num centro de investigação. Em qualquer dos casos, os dados são disponibilizados gratuitamente, mediante o cumprimento de determinadas condições, as quais visam garantir que esses dados são utilizados exclusivamente para fins científicos e com respeito pela confidencialidade da informação.
Os investigadores interessados nos dados de Portugal:
- Devem dirigir-se ao Instituto Nacional de Estatística e iniciar o processo com um pedido de acreditação de investigador para acesso a dados estatísticos para fins de investigação científica dirigido à Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. A descrição do processo pode ser consultada no site do Instituto Nacional de Estatística.
Os investigadores interessados nos dados de todos os países participantes, incluindo Portugal:
- Devem dirigir-se ao Banco Central Europeu e enviar, por correio eletrónico, um formulário preenchido juntamente com o respetivo curriculum vitae. O formulário e a descrição do processo podem ser consultados no site do Banco Central Europeu.
Caraterísticas da base de dados
A base de dados do ISFF é constituída pelos seguintes tipos de variáveis: variáveis do questionário, variáveis sombra (flags), ponderador da amostra final e réplicas do ponderador.
As variáveis do questionário incluem variáveis que se referem à família no seu conjunto e variáveis relativas aos indivíduos que fazem parte da família. Estas variáveis podem ser agrupadas em três tipos: variáveis nucleares (core, na designação em inglês), variáveis não nucleares (non-core, na designação em inglês) e variáveis nacionais. As variáveis nucleares têm uma definição harmonizada com as variáveis do HFCS e existem também para os outros países que fazem parte deste projeto. As não nucleares têm, igualmente, uma definição harmonizada com as variáveis do HFCS, mas são opcionais, existindo apenas para os países que optaram pela sua inclusão. As variáveis nacionais são definidas a nível nacional. As variáveis nucleares e não nucleares do ISFF estão disponíveis nas bases de dados do Instituto Nacional de Estatística e do Banco Central Europeu. As variáveis nacionais do ISFF estão disponíveis apenas na base de dados do Instituto Nacional de Estatística. A maioria das variáveis da base de dados do ISFF, nomeadamente as que compõem o balanço das famílias (ativos e dívidas) e o fluxo de fundos (rendimento e consumo), são variáveis nucleares. A listagem das variáveis das várias edições do ISFF pode ser consultada aqui: 2010, 2013, 2017 e 2020.
Na base de dados do ISFF não existem valores em falta na maior parte das variáveis do questionário e, em particular, nas que permitem calcular a riqueza, o rendimento ou o consumo. Em caso de não resposta, estas variáveis foram imputadas com um método que origina cinco estimativas alternativas para os valores em falta, que devem ser utilizadas em conjunto para que se leve em conta a incerteza associada ao processo de imputação.
As variáveis do questionário têm associadas variáveis sombra (flags), cujo valor indica a origem do respetivo conteúdo (por exemplo, se foi recolhida diretamente da família, se foi imputada, se não foi respondida por não se aplicar). Os códigos das variáveis sombra podem ser consultados aqui: 2010, 2013, 2017 e 2020.
O ponderador da amostra final corresponde ao número de famílias residentes em Portugal com caraterísticas semelhantes às de cada família da base de dados. Esta variável reflete as diferentes probabilidades de as famílias fazerem parte da base de dados e tem de ser usada no cálculo de estatísticas referentes ao conjunto das famílias residentes em Portugal (por exemplo, totais, médias, proporções).
As réplicas do ponderador correspondem a 1000 conjuntos alternativos de ponderadores da amostra final que, no cálculo da variância total de uma determinada estatística, permitem ter em conta a incerteza decorrente da seleção da amostra.
Informação detalhada sobre a organização da base de dados do ISFF e sobre a forma de utilização dos dados pode ser consultada aqui.
O Inquérito à Situação Financeira das Famílias (ISFF) corresponde à versão portuguesa de um inquérito que se realiza, em simultâneo, em todos os países da área do euro, de três em três anos aproximadamente. Em Portugal, as famílias participantes são selecionadas aleatoriamente a partir dos dados dos censos, através de um procedimento científico rigoroso. Cada família da amostra representa um conjunto de famílias com caraterísticas semelhantes na população. Os dados recolhidos são anonimizados o que impossibilita a identificação das famílias que participaram. Os dados são apenas utilizados para produzir indicadores estatísticos e elaborar estudos económicos.
Neste momento não existem entrevistas do ISFF a decorrer.