Os sistemas de garantia de depósitos são um pilar da estabilidade financeira, mitigando a probabilidade de ocorrência de corridas aos depósitos. Contudo, o sucesso destes esquemas de proteção depende da sua credibilidade, o que justifica que habitualmente sejam garantidos pelo soberano. Tal implica que quando a capacidade financeira do soberano esteja sob ameaça, os depositantes possam questionar a proteção das suas poupanças. Isso sugere que possa existir um canal de risco entre bancos e soberanos por via dos sistemas de garantia dos depósitos.

Durante a crise da dívida soberana (2010-2013), ocorreram dois episódios que permitem testar empiricamente esta hipótese. Em primeiro lugar, alguns dos bancos estrangeiros com atividade em Portugal decidiram, nesse período, alterar o seu estatuto legal de filial para sucursal. Esta alteração implica que a proteção dos depósitos passa a ser responsabilidade do país de origem desse grupo bancário. Verifica-se que os depositantes se mostraram sensíveis a esta alteração, aumentando as suas aplicações nestas instituições financeiras, apesar de estas oferecerem, em média, taxas de juro significativamente inferiores nesse período. Em segundo lugar, observam-se novamente realocações semelhantes na sequência do anúncio do programa de assistência financeira ao Chipre. Inicialmente o programa previa que mesmo os depositantes cobertos pelo fundo de garantia cipriota pudessem perder parte das suas poupanças. Esta decisão foi revertida subsequentemente, mas a incerteza gerada em torno deste evento foi suficiente para alterar decisões de alocação dos depósitos em Portugal. Estes resultados demonstram a importância da credibilidade dos sistemas de garantia de depósitos para assegurar a estabilidade financeira, identificando um novo canal de ligação de risco entre bancos e soberanos que pode ser relevante durante episódios de crise.

Para mais detalhes, ver Bonfim e Santos (2020), “The importance of deposit insurance credibility”, publicado como Banco de Portugal Working Paper 2020-11.

Preparado por Diana Bonfim e João A. C. Santos. As análises, opiniões e resultados expressos neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem necessariamente com os do Banco de Portugal, do Eurosistema, do Federal Reserve Bank of New York ou do Federal Reserve System.

Se desejar receber um e-mail quando for publicado um novo “Economia numa imagem” envie o seu pedido para info@bportugal.pt.