Economia numa imagem

A ação intrusiva dos supervisores permite diminuir o refinanciamento de empresas não viáveis
13.03.2020

Os bancos têm uma função importante na alocação de recursos na economia, na medida em que decidem quais os projetos que merecem ou não ter financiamento. Existe evidência de que, por vezes, esta alocação pode não ser ótima. Por exemplo, quando os custos de financiamento são particularmente reduzidos, existem vários fatores que podem dar incentivos para que os bancos privilegiem o financiamento de empresas mais vulneráveis ou arriscadas. Estes incentivos podem ser particularmente fortes nos anos que se seguem a uma crise económica e financeira, dado que existe uma maior prevalência de empresas com desempenhos fracos. Este fenómeno foi identificado pela primeira vez no Japão na sequência da crise asiática nos anos 90, designando-se este comportamento como “financiamento zombie”. Existe ampla evidência de que este tipo de financiamento esteve presente um pouco por toda a Europa na sequência da crise da dívida soberana da área do euro.
Uma questão que permanece em aberto consiste em compreender o que pode ser feito para alterar os incentivos para que este tipo de comportamento ocorra. Utilizando dados relativos aos empréstimos concedidos a empresas portuguesas, verifica-se que uma ação intrusiva por parte dos supervisores bancários pode ter efeitos relevantes na mitigação deste fenómeno. As inspeções que foram realizadas no âmbito do programa de ajustamento económico e financeiro permitiram diminuir significativamente a probabilidade de refinanciamento de uma empresa próxima de uma situação de falência. Importa compreender quais os mecanismos que justificam esta alteração de comportamento. Por um lado tal pode decorrer de uma alteração das preferências de risco dos bancos (por exemplo por receio de ter penalizações em inspeções posteriores). Por outro lado, é possível os bancos já não tenham incentivos a continuar a adotar estes comportamentos de evergreening depois de serem forçados a reconhecer perdas. A análise efetuada sugere que, apesar de ambos os mecanismos desempenharem um papel relevante, o reconhecimento atempado de perdas parece ser crucial para melhorar a alocação de recursos na economia.
Para mais detalhes, ver Diana Bonfim, Geraldo Cerqueiro, Hans Degryse e Steven Ongena (2020) “On-site inspecting zombie lending”, Banco de Portugal Working Papers 2020/1.
Preparado por Diana Bonfim. As análises, opiniões e resultados expressos neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem necessariamente com os do Banco de Portugal ou do Eurosistema.
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