Economia numa imagem

A discriminação salarial das mulheres não se atenuou nos últimos 26 anos
06.03.2020

Em 1991 os salários das mulheres portuguesas eram inferiores aos dos homens em 27 pontos percentuais. Desde essa data um número crescente de mulheres, cada vez mais qualificadas, integrou o mercado de trabalho português. Em simultâneo, entre 1991 e 2017 o hiato salarial entre mulheres e homens reduziu-se em cerca de 11 pontos percentuais.
Esta evolução do hiato salarial reflete, essencialmente, uma alteração das características das mulheres presentes na força de trabalho que conduziu ao aumento da sua produtividade e, portanto, dos salários. De facto, quando o cálculo do hiato salarial é ajustado para as características observadas dos homens e das mulheres, a indicação de aproximação dos salários deixa de se verificar, registando-se, ainda em 2017, um hiato salarial de 19 pontos percentuais. Dito de outra forma, os progressos salariais do contingente feminino da força de trabalho observados ao longo dos 26 anos são devidos, quase exclusivamente, à melhoria das suas qualificações (sobretudo o aumento dos níveis de escolaridade) e não à redução da componente não explicada do diferencial salarial, que é convencionalmente associada à noção de discriminação de género. Neste sentido, não há qualquer indicação de que nos últimos 26 anos a discriminação de género na formação dos salários se tenha atenuado em Portugal.
Para mais detalhes, ver Ana Rute Cardoso, Paulo Guimarães e Pedro Portugal (2016) “What drives the gender wage gap? A look at the role of firm and job-title heterogeneity,” Oxford Economic Papers 68 (2) e Ana Rute Cardoso, Paulo Guimarães, Pedro Portugal e Pedro Raposo (2016) “The sources of the gender wage gap”, Revista de Estudos Económicos do Banco de Portugal.
Preparado por Pedro Portugal. As análises, opiniões e resultados expressos neste espaço são da exclusiva responsabilidade do autor e não coincidem necessariamente com os do Banco de Portugal ou do Eurosistema.
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