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Intervenção do Governador Mário Centeno na Cerimónia de lançamento dos Selos Evocativos dos 20 anos do Euro
Senhor Presidente dos CTT,
Senhor Diretor de Filatelia dos CTT,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
É com grande prazer que hoje recebemos no Museu do Dinheiro a Cerimónia de Lançamento dos Selos Evocativos dos 20 anos do Euro.
Os selos postais, como aliás as notas e as moedas, graças à sua rica iconografia, têm sido importantes instrumentos de transmissão de cultura e de preservação da memória coletiva.
Por essa razão, em meu nome e em nome do Banco de Portugal, começo por agradecer aos CTT a homenagem que entenderam prestar a este episódio tão importante da história contemporânea. Julgo ser uma homenagem merecida.
Há 20 anos, testemunhávamos a maior transição monetária da história: a entrada em circulação de uma moeda única, o euro.
Eu, como certamente muitos portugueses, vivi com grande expetativa a transição física para o euro. Lembro-me do entusiasmo com que recebemos e utilizámos as primeiras notas e as primeiras moedas de euro, cientes de estarmos a viver um momento histórico para o nosso país e para a Europa. Na manhã do dia 1 de janeiro de 2002, aqui, na sede do Banco de Portugal, fizeram-se filas com mais de 500 pessoas para trocar escudos por euros! Já para não falar das filas que se formaram nos caixas automáticos pelo país e pela Europa fora.
Estudar, trabalhar ou visitar os demais países da área do euro tornou-se mais simples. Para as empresas, tornou-se mais fácil, mais barato e menos arriscado estabelecer relações de negócio com o estrangeiro. Estas são vantagens que todos facilmente reconhecemos ao euro, quando pensamos no que de bom a moeda única trouxe ao nosso dia a dia.
Mas o euro é muito mais do que uma moeda, constitui a face mais visível e uma peça extraordinariamente importante do projeto de integração europeia, que é —não devemos esquecer-nos — um projeto de paz e de prosperidade para a Europa.
A história do euro é uma história de sucesso do projeto europeu.
Vinte anos depois da introdução das notas e das moedas de euro, a moeda única constitui um pilar de estabilidade e de bem-estar para 340 milhões de cidadãos de 19 países; em janeiro, com a adesão da Croácia, de 20 países. O euro é a segunda moeda mais usada no mundo, fazendo da área do euro uma voz no plano internacional.
Hoje, o apoio dos cidadãos ao euro é o mais elevado de sempre. De acordo com o mais recente inquérito do Eurobarómetro, publicado este mês, 80% dos cidadãos da área do euro são a favor do euro.
O resultado para o nosso país é ainda mais expressivo: 86% dos portugueses apoiam a união económica e monetária e a moeda única.
Isto não deixa de ser curioso, à primeira vista, porque a popularidade do euro costumava ressentir-se em períodos de adversidade. Mas não acontece por acaso.
A verdade é que as instituições da área do euro são, hoje, mais fortes, e os cidadãos sentem-se, compreensivelmente, mais protegidos.
A união económica e monetária e o euro não são os mesmos que eram há 20 anos, é preciso dizê-lo.
No rescaldo da crise financeira e da crise das dívidas soberanas, foi criada a união bancária, que trouxe regras únicas para os bancos europeus e procedimentos harmonizados de supervisão e de recuperação e resolução bancárias. Estabeleceu-se um mecanismo de apoio permanente aos Estados-Membros em dificuldades. E, em plena crise sanitária, foi criado o primeiro instrumento orçamental dedicado à área do euro, com a primeira emissão massiva de dívida europeia. Embora ainda embrionário, este instrumento de dívida supranacional representa um compromisso que, no passado, não tinha sido possível alcançar.
Os resultados orçamentais e financeiros do nosso país no período que se seguiu à crise das dívidas soberanas e a resposta musculada da Europa aos efeitos da crise pandémica provam a extraordinária mais-valia do euro. Mas, claro, não é o momento para cruzarmos os braços.
O euro é ainda uma instituição muito jovem, e há muito que podemos fazer para o aperfeiçoar.
Esse caminho tem de ser percorrido com os cidadãos europeus, porque a estabilidade da moeda não depende apenas das garantias que possam ser oferecidas pelos bancos centrais e pelos Estados, mas depende, em última análise, da confiança que os cidadãos depositam nessas instituições.
É por essa razão que são tão importantes momentos como os de hoje, que nos recordam de onde viemos e que nos dão a oportunidade de refletir sobre o que podemos fazer para alcançar um futuro melhor.
E sobre o futuro…
O euro é fundamental para que o projeto de paz e prosperidade europeu se cumpra.
Para isso, é preciso continuarmos no caminho da integração, que é um caminho de solidariedade e de partilha de riscos. Também é necessário reforçar o papel internacional do euro, tornando-o numa moeda ainda mais atrativa para fins de reserva e de investimento.
No que diz respeito à moeda como meio de pagamento, há dois projetos relevantes em curso.
O primeiro são as novas notas de euro. O desenho das notas será revisto até 2024 e os cidadãos terão uma palavra a dizer neste processo.
O segundo projeto é o euro digital, que, caso avance, será um meio de pagamento complementar das notas e das moedas, mas mais adaptado às novas preferências dos utilizadores.
Enquanto Governador do Banco de Portugal e membro do Conselho do Banco Central Europeu, posso assegurar-vos que estamos comprometidos em tudo fazer para que o euro continue a ser motor de prosperidade, uma moeda estável e segura, ao serviço dos cidadãos e das empresas da área do euro.
Muito obrigado.