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Intervenção de abertura do Governador Mário Centeno no XXXIII Encontro de Lisboa entre os Bancos Centrais de Língua Portuguesa
Senhores Embaixadores, Senhores Governadores e Vice-Governadores, Caros Convidados,
Muito bom dia.
Na abertura do 33.º Encontro de Lisboa, momento habitual de preparação conjunta dos bancos centrais dos países de língua portuguesa para as reuniões anuais do FMI/Grupo Banco Mundial, queria começar por deixar uma palavra de solidariedade e apreço ao povo do país anfitrião – Marrocos.
Os temas das reuniões anuais do Banco Mundial e FMI deste ano - Ação Global, para Impacto Global e Construir uma Prosperidade Partilhada e Resistência Coletiva - refletem a preocupação pelos desafios sistémicos e globais que têm marcado os últimos anos, no qual se incluem, infelizmente, as catástrofes naturais ou fruto das alterações climáticas.
A cooperação, que este Encontro também simboliza, representa para nós um ponto essencial na preparação de respostas eficazes a esses desafios.
Reconhecendo que os momentos de crise incitam as instituições a inovar, tal como aconteceu na crise pandémica, o debate de hoje centra-se assim na “inovação”, fator fundamental na implementação dessas respostas.
O XI Encontro de Governadores dos Bancos Centrais dos Países de Língua Portuguesa, organizado pelo Banco Central do Brasil em maio deste ano, foi dedicado à discussão da agenda de sustentabilidade dos bancos centrais.
Durante o evento, pude confirmar a capacidade dos bancos centrais e dos nossos parceiros em inovar; em incluir nos processos técnicos e de decisão, formas de mitigar os impactos aos fenómenos globais resultantes das alterações climáticas.
Paralelamente, a própria inovação nos sistemas e mercados financeiros induz a ação dos bancos centrais, porque pela alteração do contexto de atuação surge a necessidade de adaptação, de criar respostas novas e diferenciadas. Surge a necessidade de inovar.
Tende a pensar-se nos bancos centrais como instituições conservadoras, avessas ao risco, que pouco ou lentamente mudam.
É verdade que a credibilidade dos bancos centrais foi edificada com base na prudência, a qual é consistente com a dimensão (quase por definição) sistémica da sua ação e a necessidade de minimizar e mitigar riscos e efeitos colaterais adversos. Mas para desempenharem a sua missão e promoverem a estabilidade e a previsibilidade das políticas, dependem necessariamente da sua capacidade de inovação.
Falo de inovação tecnológica, mas também de inovação institucional, metodológica e de gestão, que permite uma atuação eficaz nos diferentes mandatos dos Bancos Centrais. Sublinho aqui o papel de sistemas, metodologias e processos inovadores na atividade de supervisão, de elaboração de estatísticas e de produção do conhecimento. Não necessitaremos de nos estender muito no tempo, basta relembrar eventos recentes de dimensão planetária, como a grande crise financeira, a crise pandémica, a transformação digital e transição climática, para imediatamente relembrarmos o quão inovativos fomos e teremos que continuar a ser.
Na dimensão macroeconómica, não poderia deixar de evidenciar a forma como a pandemia afetou as nossas economias e redesenhou o comércio internacional. A recuperação tem sido desafiante, em particular por ter sido condicionada pela invasão desumana e injustificada da Ucrânia em 2022.
Ao abrandamento da atividade mundial no ano passado, prevê-se agora um novo abrandamento que reflete o comportamento das economias avançadas, com inevitáveis impactos sobre as restantes geografias, a nível do comércio mundial, dos custos de financiamento e dos equilíbrios cambiais.
A normalização das restrições da oferta e a evolução favorável dos preços das matérias-primas, desde os máximos registados em 2022, explicam em larga medida a moderação dos preços observada nos primeiros meses de 2023. Contudo, a inflação está ainda acima dos referenciais no final de 2023.
Neste quadro, as políticas monetárias, nomeadamente na área do euro, deverão continuar a servir a estabilidade de preços, certas de que os custos da inflação são mais desiguais e regressivos do que as medidas utilizadas para a combater.
A prudência é essencial igualmente para evitar reagir de forma excessiva e sem dar tempo a que o processo de transmissão se materialize. Uma sobre reação poderia resultar num abrandamento económico desnecessário e intensificar os riscos no sistema financeiro. Este é um equilíbrio difícil, mas crucial.
É preciso monitorizar e atuar em função dos dados e compreender os desfasamentos dos mecanismos de transmissão. Só assim é que podemos preservar a eficácia e credibilidade das nossas decisões.
Importa também que as políticas orçamentais se pautem pela prudência e se foquem no apoio aos mais vulneráveis. A redução sustentada da dívida é um dos maiores ativos que podemos deixar às gerações futuras e é um dos grandes desafios globais neste momento.
Como sempre, a inflação ajuda a relativizar o problema da dívida, mas sem políticas sustentadas para a redução da dívida este efeito benévolo da inflação rapidamente se esvai ou até inverte com o aumento do serviço da dívida resultante de taxas de juro mais elevadas e a contração da economia que este aumento consubstancia.
A convicção de que este entendimento tem de ser partilhado justifica o meu otimismo quanto à resiliência da economia portuguesa (e na verdade de todas as nossas economias) para fazer face às novas dificuldades.
Para finalizar, permitam-me uma breve menção à atividade de cooperação do Banco.
Em 2022, fizemos mais e melhor. Realizaram-se 182 ações (mais oito do que um ano antes), 86% com bancos centrais dos países de língua portuguesa, o que demonstra o nosso compromisso de cooperação.
Estas ações com os BCPLP percorreram a generalidade das temáticas de banca central, com prioridade para as áreas de missão, nomeadamente supervisão, estabilidade financeira, estatística, política monetária, sistemas de pagamento e emissão e tesouraria.
Foram também abordados novos temas, com destaque para a cibersegurança, os criptoactivos e a Moeda Digital.
Como nos tínhamos proposto, em 2023, procurámos mais eficiência, explorando as potencialidades das ações multilaterais e remotas, prosseguindo a diversificação a outras geografias e a integração em iniciativas de âmbito europeu e internacional.
O Banco de Portugal trabalhou também para garantir a participação nacional no esforço de canalização voluntária de Direitos de Saque Especiais (DSE), na sequência da atribuição geral de 2021.
Fui signatário do acordo de investimento do Banco de Portugal na conta de depósito e investimento do Poverty Reduction and Growth Trust (PRGT).
O investimento, cerca de 330 milhões de euros, deverá permitir, num período de dez anos, reforçar as contas de subsidiação do PRGT em cerca de 14 milhões de euros - um contributo financeiro tangível para apoiar o FMI na concessão de empréstimos com condições mais favoráveis a países de baixo rendimento.
Numa altura em que preparamos as reuniões anuais do FMI/Grupo Banco Mundial, estamos empenhados na agenda de reformas à escala global, nomeadamente nas questões de recursos e representação e na mobilização de apoio aos países mais vulneráveis.
Retomando o meu ponto inicial, o momento para inovar é agora. É nos momentos desafiantes que importa reagir; porque existe um desfasamento entre o momento em que se decide e age e o momento em que se colhem os frutos; porque a inovação é um passo para consolidar um crescimento mais sustentado no médio prazo.
Debateremos em duas mesas redondas como a inovação transforma os nossos sistemas de pagamentos e como pode ser chave para o crescimento. Nada poderia ser mais atual, nem melhor a oportunidade, face às nossas experiências muito variadas.
Para aguçar o nosso apetite em inovar, deixo-vos com Sebastião Villax.
Vindo inicialmente do mundo da Fintech, o Sebastião encontra-se a cimentar o seu percurso numa das empresas que marcam a paisagem da Inteligência Artificial. O seu trabalho passa por antecipar as necessidades tecnológicas das diferentes indústrias ao facilitar as interações entre máquinas e humanos.
Como ele, vamos descobrir como a Inteligência Artificial está a redefinir o setor bancário e as oportunidades e os desafios que enfrentaremos.
Uma última palavra para os acontecimentos dramáticos dos últimos dias e que mais uma vez assolam os povos israelita e palestino. Estes acontecimentos convocam-nos a todos, quando nos preparamos para um debate acerca de desafios globais e da partilha da prosperidade para voltar a proferir uma expressão que há muito falta em certas partes do Globo, “vamos dar uma oportunidade à paz”.
Muito obrigado