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Entrevista do Administrador Hélder Rosalino ao Expresso

Administrador do Banco de Portugal com o projeto do euro digital assume que não tem havido “grande polémica” “Estive ligado à introdução das notas de euro na viragem do século, havia muitos receios, e Portugal foi dos países que melhor se organizou, preparou e comunicou. Somos normalmente early adopters [pioneiros na adoção] de novas tecnologias.” É o administrador do Banco de Portugal (BdP) Hélder Rosalino quem o diz numa conversa com o Expresso sobre a introdução do euro digital, a cargo do Banco Central Europeu. É por isso que considera que o debate político não está a ser tão agressivo como em países como a Alemanha.

Para o responsável do BdP por este projeto, “as pessoas não estão preocupadas, porque confiam nas autoridades que isto não vai criar problemas. O euro digital em Portugal não tem suscitado grande polémica. O que significa que, não tendo suscitado controvérsia, passa um pouco despercebido no debate político”. Reputa que não é desconhecimento (“temos intervenções públicas, artigos, entrevistas, conferências, muita informação disponível sobre a matéria”), mas sim essa “boa capacidade de aceitação destas evoluções” que não levanta dúvidas.

Tem trabalhado com o gabinete do Ministério das Finanças que acompanha o pacote legislativo em curso por parte da Comissão Europeia e Parlamento Europeu, mas até aqui Rosalino não foi chamado ao Parlamento para responder a questões sobre a matéria, como as que são levantadas na “Alemanha, Países Baixos e até na Áustria”, como as críticas ligadas à privacidade de transações.

O sector financeiro também tem dúvidas: “Os bancos têm, evidentemente, preocupações, não são só os portugueses”, assumiu o administrador do BdP. A “principal preocupação” é a relativa ao receio de fuga de depósitos de bancos comerciais para a conta em euro digital daí que haja um limite por cidadão, que continua por definir. “Depois, há outra que resulta do facto de poder admitir que este instrumento de pagamento possa competir com outro instrumento de pagamento”, admite.

Em Portugal, a SIBS, dona do Multibanco e da plataforma MB Way, “está a acompanhar este projeto” e, acredita Hélder Rosalino, “está a integrá-lo na sua estratégia”. “Quem vai fazer a distribuição e integração nas suas plataformas são os privados. O BCE e os bancos centrais nacionais só vão intervir no euro digital na fase de emissão e liquidação”, desdramatizou. E dentro do Conselho de Administração do BdP, todos são favoráveis ao euro digital? “Não há pessoas a favor e contra, o que há é acompanhamento”, respondeu, acrescentando que foi criada uma comissão interna, que inclui administradores com vários pelouros. E, embora Rosalino esteja nos comités do BCE sobre o projeto, é o governador, Mário Centeno, que depois toma decisões no Conselho de Governadores. E estas incluindo se tudo avança mesmo ainda demoram. “Estamos a meio da maratona, este projeto começou em 2020. Estamos quase em 2024 e estaremos mais ou menos a meio do caminho”, ressalvou.

Nesse futuro, o administrador do BdP recusa a ideia de que o euro digital possa acelerar o fecho de fábricas de notas, como a que existe no Carregado: “A verdade é que as notas emitidas estão cada vez mais a sair da área do euro. São instrumento de reserva, até de aforro, fora do euro, e as pessoas podem ter dinheiro em casa.”