Nota de Informação Estatística – Contas nacionais financeiras - 2.º trimestre de 2019 e revisão das contas nacionais financeiras e estatísticas externas
O Banco de Portugal publica hoje, no quadro A.6 do Boletim Estatístico e no BPstat, as contas nacionais financeiras relativas ao segundo trimestre de 2019.

A economia portuguesa apresentou, no ano acabado no segundo trimestre de 2019, uma capacidade de financiamento de 0,4 por cento do PIB (Gráfico 1), mantendo a sucessão de saldos positivos registados desde o final de 2012.
Este resultado reflete a capacidade de financiamento das sociedades financeiras, dos particulares e das administrações públicas (respetivamente de 3,0, 1,0 e 0,2 por cento do PIB), a qual excedeu a necessidade de financiamento das sociedades não financeiras (-3,9 por cento do PIB).
Os particulares foram o único setor a registar uma redução dos ativos financeiros líquidos, os quais diminuíram 0,4 pontos percentuais do PIB face ao período homólogo. Esta descida resulta do efeito neste rácio do crescimento do PIB.

No final do segundo trimestre de 2019, a economia portuguesa apresentava uma posição financeira líquida face ao resto do mundo de -104,4 por cento do PIB (Gráfico 2), que compara com -110,1 por cento do PIB no final do segundo trimestre de 2018.
Revisão das contas nacionais financeiras e estatísticas externas
O Banco de Portugal publica hoje no Boletim Estatístico e no BPstat, novas séries de contas nacionais financeiras, com início no quarto trimestre de 1994. Publica ainda estatísticas da balança de pagamentos, posição de investimento internacional e dívida externa relativas ao período de 1996 a julho de 2019. Conforme Nota de Informação Estatística de 21 de agosto, o Banco de Portugal e o Instituto Nacional de Estatística (INE) prepararam a revisão da base das contas nacionais, a qual permitiu aumentar a consistência entre a componente não financeira das contas nacionais, da responsabilidade do INE, e a componente financeira, da responsabilidade do Banco, assim como a consistência com a Balança de Pagamentos, também da responsabilidade do Banco.
Revisão das contas nacionais financeiras
As séries estatísticas das contas nacionais financeiras passam a ser publicadas, de forma consistente, com a base de 2016 das contas nacionais portuguesas, divulgadas pelo INE a 23 de setembro de 2019. Os valores agora publicados refletem a atualização da informação de base, a introdução de melhorias nos processos de compilação e a incorporação de alterações metodológicas. São, assim, disponibilizadas séries trimestrais consistentes desde o quarto trimestre de 1994 até ao segundo trimestre de 2019. As revisões efetuadas não alteram de forma significativa os resultados publicados nas séries de patrimónios e de transações financeiros, quer em termos de sinal, quer em termos de evolução temporal.
No que respeita às transações financeiras (Gráfico 3), verifica-se, nos períodos mais recentes, uma revisão em baixa da necessidade de financiamento das sociedades não financeiras e uma revisão em alta da capacidade de financiamento dos particulares e das sociedades financeiras. Estas revisões são consistentes com as alterações efetuadas pelo INE na conta não financeira e refletem a incorporação de informação sobre recebimentos de prestações sociais do exterior pelos particulares, e a revisão em alta dos rendimentos de propriedade pagos pelo setor das sociedades não financeiras aos particulares.
Gráfico 3 ● Capacidade (+) / necessidade (-) de financiamento por setor institucional | percentagem do PIB




Quanto aos patrimónios financeiros (Gráfico 4) observa-se uma revisão em baixa dos ativos financeiros líquidos das sociedades não financeiras. Esta revisão é resultante, em grande medida, da alteração da forma de cálculo dos passivos em ações não cotadas e outras participações, a qual passou a excluir as empresas com fundos próprios negativos. A referida alteração tem como consequência a revisão em alta dos ativos financeiros líquidos dos particulares, por serem detentores do capital emitido pelas empresas. Adicionalmente, o setor dos particulares beneficia de uma revisão em alta do instrumento numerário no seu ativo, devido à alteração da forma de estimação das notas e moedas na sua posse.
Gráfico 4 ● Ativos financeiros líquidos por setor institucional | percentagem do PIB




Revisão das estatísticas externas
As revisões das estatísticas externas incluíram uma atualização das fontes de informação e metodologias existentes, a utilização de novas fontes, melhorias no processo de compilação. Estas revisões refletem uma maior consistência com a conta do resto do mundo da responsabilidade do INE.

O saldo das balanças corrente e de capital (Gráfico 5) foi revisto em alta, em particular, nos últimos três anos. Em 2018, o saldo reviu cerca de 1 ponto percentual, situando-se em 1,4 por cento do PIB.
A principal revisão com impacto positivo verifica-se no saldo na balança de rendimento secundário (Gráfico 6) e é explicada pela incorporação de informação administrativa relativa às prestações sociais recebidas do exterior.
Em contraste, o saldo da balança de bens e serviços foi revisto em baixa, em particular a partir de 2012, refletindo a incorporação de informação complementar relativa ao comércio eletrónico. Adicionalmente, a revisão em baixa do saldo da balança de bens justificou-se por uma maior abrangência dos fenómenos económicos, legais ou ilegais, conforme as recomendações dos manuais internacionais.
Outras revisões resultantes de alterações metodológicas e da incorporação de novas fontes de dados, como a ocorrida nas viagens e turismo, tiveram um impacto positivo na balança de serviços. Esta revisão justificou-se pela incorporação de uma nova série estatística do INE relativa a dormidas, que passou a incluir o alojamento local, e por melhorias na apropriação da informação dos sistemas de pagamentos do Banco de Portugal.

Entre as revisões da balança financeira e posição de investimento internacional (PII) destaca-se a incorporação de uma nova metodologia de cálculo dos créditos comerciais e dos juros corridos e não pagos.
A revisão da PII (Gráfico 7), no final de 2018, foi de -12 mil milhões de euros, fixando-se em -105,6 por cento do PIB, cerca de menos 5 pontos percentuais face à anterior série. Para esta redução contribuíram as revisões da balança financeira acima referidas bem como a alteração da forma de valorização das ações não cotadas e outras participações. Esta alteração contribuiu para que a PII fosse revista em baixa dado que as revisões nas posições passivas das empresas portuguesas são superiores às revisões nas posições ativas.
Adicionalmente, foi adotada uma nova fonte de informação administrativa para as compras e vendas de imóveis entre residentes e não residentes com o objetivo de refletir a dinâmica sentida nos últimos anos no mercado imobiliário português, o que levou a um aumento dos passivos financeiros face ao exterior.

A alteração da PII refletiu-se numa revisão em alta da dívida externa líquida (Gráfico 8). No final de 2018, a dívida externa líquida atingiu cerca de 91,2 por cento do PIB. As revisões na dívida externa foram inferiores às revisões na PII porque a dívida não incorpora a componente de capital e, como tal, não reflete o impacto da revisão da valorização das ações não cotadas e outras participações.

O Banco de Portugal publicou hoje o Boletim Económico que inclui também uma caixa sobre este assunto.
Próxima atualização: 9 jan. 2020
Notas
(1) Valores em percentagem do PIB do ano acabado no trimestre.
(2) Valores acumulados dos quatro últimos trimestres.
(3) Posições em fim de período.