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Nota de Informação Estatística - Análise do setor da construção 2017
O Banco de Portugal atualiza hoje o Estudo da Central de Balanços | 15 – Análise do Setor da Construção, com informação sobre a situação económica e financeira das empresas deste setor1,2 em 2017.
Esta informação é complementada com dados relativos ao final de 2018 sobre os empréstimos concedidos pelo setor financeiro residente.
Os resultados são apresentados por referência às classes de dimensão – microempresas, pequenas e médias empresas e grandes empresas – e segmentos de atividade económica (“construção de edifícios”, “engenharia civil” e “atividades especializadas”), e comparados com os resultados do total das empresas3.
Este Estudo foi publicado pela primeira vez em 2014, com dados relativos ao período 2008-2012, e atualizado posteriormente com dados relativos a 2015.
Estrutura e demografia
Número de empresas em atividade estabilizou em 2017, após redução observada desde 2013
Em 2017, o setor da construção representava 10% das empresas em Portugal (45 mil empresas), 9% das pessoas ao serviço (253 mil pessoas) e 5% do volume de negócios (19 mil milhões de euros). O número de empresas em atividade no setor estabilizou entre 2016 e 2017 (aumento de 1,7% no total das empresas), pelo que o peso do setor no total das empresas diminuiu 0,2 pp, tendo em conta esta variável.

Em 2017, por cada empresa que encerrou atividade no setor foi criada uma empresa (rácio natalidade/mortalidade de 1,3 no total das empresas) (Gráfico 1). Pela primeira vez desde 2008, o rácio natalidade/mortalidade do setor não foi inferior à unidade. Para este resultado contribuíram, em particular, as microempresas (rácio natalidade/mortalidade de 1,0). Nas pequenas e médias empresas do setor, por cada duas empresas que encerraram atividade foi criada uma empresa. Já no que respeita às grandes empresas, uma empresa encerrou atividade; contudo não foi criada nenhuma. Por segmentos de atividade económica, a engenharia civil foi o único segmento a registar um rácio natalidade/mortalidade inferior à unidade (0,7). Este rácio foi de 1,1 nas atividades especializadas e de 1,0 na construção de edifícios.

Em 2017, 88% das empresas do setor eram microempresas (89% no total das empresas), as quais representavam 25% do volume de negócios e 34% das pessoas ao serviço do setor (16% e 26%, respetivamente, no total das empresas) (Gráfico 2). As pequenas e médias empresas agregavam a maior parcela do volume de negócios (54%) e das pessoas ao serviço (52%). As grandes empresas eram responsáveis por 21% do volume de negócios e 14% das pessoas ao serviço do setor, valores abaixo dos registados no total das empresas (42% e 29%, respetivamente). Por segmentos de atividade, as pequenas e médias empresas assumiam maior relevância na construção de edifícios e nas atividades especializadas. É de destacar o peso das grandes empresas na engenharia civil, as quais representavam 47% do volume de negócios e 45% das pessoas ao serviço.

Por segmentos de atividade, a construção de edifícios era o segmento mais relevante ao representar 59% das empresas, 47% do volume de negócios e 46% das pessoas ao serviço do setor (Gráfico 3). As atividades especializadas representavam 35% das empresas, 27% do volume de negócios e 34% das pessoas ao serviço do setor, ao passo que a engenharia civil compreendia 6% das empresas, 25% do volume de negócios e 19% das pessoas ao serviço do setor. O peso deste segmento, tendo em conta o volume de negócios, diminuiu 1 pp face a 2016, em benefício da construção de edifícios.
A região Norte agregava 40% do volume de negócios do setor, seguida da área metropolitana de Lisboa (34%). O setor assumia maior relevância no Algarve e na Região Autónoma da Madeira, onde representava, respetivamente, 11% e 9% do volume de negócios gerado pelas empresas aí sediadas.

Atividade e rendibilidade
Volume de negócios aumentou 11% em 2017, após seis anos a decrescer
O volume de negócios do setor da construção aumentou 11% em 2017, após seis anos a decrescer, superando o crescimento verificado para o total das empresas (9%). O aumento do volume de negócios foi transversal a todas as classes de dimensão: 14% nas pequenas e médias empresas, 11% nas microempresas e 5% nas grandes empresas. Por segmentos de atividade, a construção de edifícios registou o maior crescimento do volume de negócios (15%) e o maior contributo para a variação registada no setor como um todo (7 pp). O volume de negócios aumentou 9% nas atividades especializadas (contributo de 3 pp para a variação do setor) e 7% na engenharia civil (contributo de 2 pp) (Gráfico 4). O crescimento do volume de negócios do setor da construção em 2017 foi determinado pelo mercado interno (contributo de 11 pp). Ainda assim, 19% do volume de negócios teve origem no mercado externo (22% no total das empresas). Em 2017, integravam o setor exportador4 5% das empresas do setor da construção (6% no total das empresas), as quais correspondiam a 27% do volume de negócios e 24% das pessoas ao serviço do setor. O setor exportador era mais relevante na engenharia civil: representava 7% das empresas, 47% do volume de negócios e 48% das pessoas ao serviço deste segmento.
Os gastos da atividade operacional da construção aumentaram 11% entre 2016 e 2017 (9% no total das empresas), na sequência de variações positivas de todas as suas componentes. O custo das mercadorias vendidas e matérias consumidas aumentou 14%, enquanto os fornecimentos e serviços externos e os gastos com o pessoal aumentaram 12% e 5%, respetivamente. Os fornecimentos e serviços externos eram a componente mais relevante dos gastos da atividade operacional do setor (46%), seguindo-se o custo das mercadorias vendidas e matérias consumidas (29%).

O EBITDA do setor da construção aumentou 1% em 2017 (aumento de 15% no total das empresas), refletindo diferentes evoluções por classes de dimensão e por segmentos de atividade que se compensaram entre si (Gráfico 5). As microempresas e as pequenas e médias empresas registaram variações positivas do EBITDA (10% e 18%, respetivamente), enquanto o EBITDA das grandes empresas diminuiu (23%). Por segmentos de atividade, o EBITDA aumentou 50% nas atividades especializadas e 35% na construção de edifícios (contributos de 8 e 12 pp, respetivamente, para a variação do EBITDA do setor). Esta rubrica diminuiu 38% na engenharia civil (contributo negativo de 19 pp para a variação do EBITDA do setor).

Rendibilidade dos capitais próprios foi inferior à do total das empresas
A rendibilidade dos capitais próprios do setor da construção foi de 2% em 2017, menos 7 pp do que o valor registado para o total das empresas (Gráfico 6). A rendibilidade do setor aumentou 1 pp, na sequência dos crescimentos registados pelas atividades especializadas (7 pp, para 10%) e pela construção de edifícios (3 pp, para 1%). A rendibilidade da engenharia civil foi negativa em 1%, uma diminuição de 7 pp em relação a 2016.

A margem operacional (EBITDA/rendimentos) do setor foi de 9% em 2017, valor 1 pp inferior ao registado em 2016 e 2 pp abaixo da margem observada pelo total das empresas (Gráfico 7). A margem operacional era maior nas grandes empresas (11%, que comparava com 7% nas microempresas e 9% nas pequenas e médias empresas) e na engenharia civil (10%, que comparava com 9% nos restantes segmentos). Em 2017, o setor registou uma margem líquida (resultado líquido do período/rendimentos) de 1%, inferior à registada no total das empresas (4%) e semelhante à registada no setor em 2016. A margem líquida era mais elevada nas pequenas e médias empresas (3%, que comparava com 0,4% nas grandes empresas e -1% nas microempresas) e, por segmentos de atividade, nas atividades especializadas (3%, que comparava com 1% na construção de edifícios e -1% na engenharia civil).

Situação financeira
Autonomia financeira aumentou em 2017 enquanto o passivo do setor diminuiu
O rácio de autonomia financeira do setor aumentou 2 pp entre 2016 e 2017, para 28%, mantendo-se abaixo do valor verificado para o total das empresas (33%) (Gráfico 8). O rácio de autonomia financeira era mais elevado nas atividades especializadas (33%), ainda que tenha sido a construção de edifícios a registar o maior aumento deste indicador face a 2016 (2 pp, para 27%, valor que compara com crescimentos de 1 pp nos restantes segmentos).

O passivo do setor diminuiu 5% em 2017 (aumento de 2% no total das empresas) (Gráfico 9). A dívida remunerada, que agrega os títulos de dívida, empréstimos bancários, financiamentos de empresas do grupo e outros financiamentos obtidos, contribuiu em 4 pp para esta diminuição. É de destacar o contributo dos empréstimos bancários: 3 pp, associado a uma diminuição de 9%.

A dívida remunerada representava 52% do passivo do setor em 2017, valor 2 pp inferior ao observado no total das empresas (Gráfico 10). Os empréstimos bancários eram a componente que mais se destacava, ao representarem 29% do passivo do setor. Estes eram particularmente relevantes nas pequenas e médias empresas (34%, valor que comparava com 24% nas microempresas e 31% nas grandes empresas) e na engenharia civil (31% do passivo do segmento, proporção que comparava com 28% na construção de edifícios e 25% nas atividades especializadas).

A dívida comercial representava 16% do passivo do setor da construção, peso similar ao registado no total das empresas. Em 2017, o financiamento líquido por dívida comercial deste setor era negativo. O diferencial entre os saldos de fornecedores e de clientes era equivalente a -9% do volume de negócios (-3% para o total das empresas). Este diferencial foi, ainda assim, 3 pp menos negativo do que o registado em 2016. Por segmentos de atividade económica, o diferencial entre os saldos de fornecedores e de clientes era mais negativo nas atividades especializadas e na engenharia civil (15% e 13% dos respetivos volumes de negócios).
Gastos de financiamento e pressão financeira do setor diminuíram em 2017
Os gastos de financiamento do setor da construção diminuíram 17% em 2017, redução superior à observada para o total das empresas (6%). Esta redução foi mais acentuada nas grandes empresas (23%) e, por segmentos de atividade, na engenharia civil (24%). A construção de edifícios registou um decréscimo dos respetivos gastos de financiamento de 12%, ao passo que nas atividades especializadas estes gastos não se alteraram.

O efeito conjugado do aumento do EBITDA e da diminuição dos gastos de financiamento determinou uma redução da pressão financeira do setor. Em 2017, 41% do EBITDA do setor foi consumido por gastos de financiamento, proporção superior à registada no total das empresas (16%) (Gráfico 11). A pressão financeira do setor diminuiu 9 pp em relação a 2016 (4 pp no total das empresas). A redução deste indicador foi maior para as microempresas (12 pp, para 47%) e no segmento da construção de edifícios (24 pp, para 46%). Em contraponto, nas grandes empresas a pressão financeira praticamente não se alterou face a 2016 (55%), tendo aumentado 10 pp na engenharia civil (para 56%).

Segundo informação da Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal o setor da construção agregava, no final de 2018, 13,3% do montante de crédito obtido pelas empresas não financeiras junto do setor financeiro residente, parcela que diminuiu 2 pp em relação ao final de 2017.
No final de 2018, 24,2% do crédito concedido ao setor encontrava-se em incumprimento, valor superior ao registado no total das empresas (9,4%) (Gráfico 12). O rácio de crédito vencido do setor diminuiu 8 pp comparativamente com o registado no final de 2017, redução superior à registada no total das empresas (4 pp). Para a maior diminuição do rácio de crédito vencido do setor contribuiu, em grande medida, a redução do nível de incumprimento associado à construção de edifícios. No final de 2018, 31,5% do crédito dirigido à construção de edifícios encontrava-se em incumprimento, valor 9 pp inferior ao registado no final de 2017. Os rácios de crédito vencido da engenharia civil e das atividades especializadas também diminuíram no mesmo período (2 pp e 8 pp, para 11,3% e 16,1%, respetivamente).
Notas
1 Na área “Empresas” do site do Banco de Portugal, cada empresa pode, de forma instantânea e gratuita, obter o seu Quadro da Empresa e do Setor. Esta informação permite à empresa comparar a sua situação económica e financeira com a das restantes empresas do mesmo setor de atividade e classe de dimensão, atendendo a um vasto conjunto de indicadores. No site do Banco de Portugal é ainda possível a qualquer utilizador aceder aos Quadros do Setor, os quais possibilitam a obtenção de informação agregada para o mesmo conjunto de indicadores relativamente a qualquer setor de atividade e classe de dimensão.
2 Para efeitos desta análise, o setor da construção compreende as Divisões 41 (construção de edifícios), 42 (engenharia civil) e 43 (atividades especializadas) da CAE-Rev.3, atividades económicas inseridas no âmbito da Secção F – Construção.
3 Nos "Documentos relacionados" da presente nota de informação estatística estão disponíveis, em ficheiro Excel, as séries estatísticas analisadas neste Estudo.
4 O setor exportador engloba o subconjunto das empresas que registavam exportações de bens e serviços, para as quais: (i) estas exportações representavam pelo menos metade do volume de negócios; ou (ii) em que pelo menos 10% do volume de negócios decorresse de exportações de bens e serviços, quando estas fossem superiores a 150 mil euros. Uma análise detalhada do setor exportador consta da publicação Estudos da Central de Balanços | 22 – Análise das empresas do setor exportador em Portugal, de junho de 2015, atualizada em dezembro de 2017 através da Nota de Informação Estatística n.º 122/2017.