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Nota de Informação Estatística - Análise do setor agrícola 2017

O Banco de Portugal atualiza hoje o Estudo da Central de Balanços | 11 – Análise do Setor Agrícola, com informação sobre a situação económica e financeira das empresas do setor agrícola1,2 em 2017.

Esta informação é complementada com dados relativos ao primeiro semestre de 2018 sobre os empréstimos concedidos pelo setor financeiro residente.

Os resultados são apresentados por referência às classes de dimensão – microempresas, pequenas e médias empresas e grandes empresas – e segmentos de atividade económica (“agricultura”, “indústria de produtos agrícolas” e “comércio de produtos agrícolas”), e comparados com os resultados do total das empresas3.

Este Estudo foi publicado pela primeira vez em 2012, com dados relativos ao período 2007-2011, e atualizado posteriormente com dados relativos a 2015.

Estrutura e demografia

O setor era composto maioritariamente por microempresas e apresentava maior peso no Alentejo e na Região Autónoma dos Açores

O setor agrícola representava, em 2017, 9% das empresas em Portugal (37 mil empresas), 9% das pessoas ao serviço das empresas não financeiras (266 mil pessoas) e 14% do volume de negócios (49 mil milhões de euros). O número de empresas em atividade no setor aumentou 1,8% face a 2016, subida em linha com o aumento de 1,7% registado para o total das empresas. O peso do setor no total das empresas diminuiu 0,3 pp ao nível do volume de negócios e 0,2 pp no que respeita ao número de pessoas ao serviço.

 

 

Em 2017, por cada empresa que encerrou atividade foram criadas 1,3 empresas (Gráfico 1), valor próximo do observado para o total das empresas. O crescimento do número de empresas em atividade no setor esteve associado ao aumento do número de microempresas (rácio natalidade/mortalidade de 1,3 em 2017) e de empresas ligadas à agricultura (rácio natalidade/mortalidade de 2,0, e de 0,9 nos restantes segmentos).

 

Em 2017, as microempresas agregavam 85% das empresas do setor, proporção 4 pp inferior à registada para o total das empresas (Gráfico 2). Esta classe de dimensão gerava 13% do volume de negócios e agregava 25% das pessoas ao serviço do setor (16% e 26%, respetivamente, no total das empresas). As pequenas e médias empresas eram responsáveis pelas maiores parcelas do volume de negócios (51%) e das pessoas ao serviço (57%), valores acima dos registados no total das empresas (43% e 45%, respetivamente).

 

A agricultura reunia 46% das empresas do setor agrícola, 10% do volume de negócios e 23% do número de pessoas ao serviço do mesmo (Gráfico 3). A indústria de produtos agrícolas (29% das empresas do setor) era o segmento mais relevante no volume de negócios (48%) e no número de pessoas ao serviço (56%). O peso deste segmento no total do setor diminuiu entre 2016 e 2017, independentemente da variável considerada, em contraste com o observado na agricultura. Quanto à estrutura dos setores de atividade por classes de dimensão, destaque para a maior relevância das grandes empresas na indústria de produtos agrícolas e das microempresas na agricultura.

O setor agrícola assumia maior relevância no Alentejo e na Região Autónoma dos Açores, ao agregar 36% e 28%, respetivamente, do volume de negócios das empresas sediadas nestas regiões. A área metropolitana de Lisboa era responsável por 30% do volume de negócios do setor, seguindo-se as regiões Centro e Norte (27% e 26%, respetivamente).

Atividade e rendibilidade

O volume de negócios aumentou 7% e determinou o crescimento do EBITDA do setor

O volume de negócios do setor agrícola aumentou 7% em 2017, crescimento inferior ao verificado no total das empresas (9%), mas superior ao registado pelo setor em 2016 (3%).

Todos os segmentos de atividade registaram subidas do volume de negócios em 2017: 10% na agricultura, 8% no comércio de produtos agrícolas e 6% na indústria de produtos agrícolas. Os dois últimos segmentos contribuíram com 3 pp, cada um, para a variação registada no setor como um todo (Gráfico 4).

O mercado interno contribuiu em 5 pp para o crescimento do volume de negócios do setor, ainda que 35% do mesmo tenha tido origem no setor exportador4. Este valor era semelhante ao registado para o total das empresas. Em 2017, 7% das empresas do setor agrícola integravam o setor exportador (6% no total das empresas). Este conjunto era mais relevante na indústria de produtos agrícolas (10% das empresas, as quais representavam 53% do volume de negócios deste segmento).

Os gastos da atividade operacional do setor agrícola aumentaram 8% em 2017 (9% no total das empresas), subida semelhante à registada pelo custo das mercadorias vendidas e matérias consumidas (CMVMC). Esta era a componente mais expressiva dos gastos da atividade operacional do setor (75%), bem como de todos os seus segmentos de atividade, assumindo maior relevância no comércio de produtos agrícolas (86% dos gastos da atividade operacional). Os fornecimentos e serviços externos eram comparativamente mais relevantes na agricultura (31% dos gastos da atividade operacional). Neste segmento, os gastos com o pessoal também assumiam maior importância relativa (16% dos gastos da atividade operacional, proporção superior aos 9% registados no total do setor).

 

O EBITDA do setor agrícola aumentou 5% em 2017 (15% no total das empresas) (Gráfico 5). Caso fossem consideradas as empresas comuns5 a ambos os períodos, a variação do EBITDA do setor seria de 9% em 2017.

Por segmentos de atividade, a agricultura registou o crescimento do EBITDA mais elevado (21%), contribuindo em 4 pp para a subida desta rubrica no setor. O EBITDA da indústria de produtos agrícolas diminuiu 2%, com um contributo negativo de 1 pp para a variação deste indicador no setor (se fossem consideradas as empresas comuns a este segmento em ambos os períodos, a variação do EBITDA seria positiva em 5%). No comércio de produtos agrícolas, a variação do EBITDA foi de 13% em 2017.

A rendibilidade dos capitais próprios do setor não se alterou, passando a ser inferior à do total das empresas

Em 2017, a rendibilidade dos capitais próprios do setor agrícola foi de 8%, valor inferior em 1 pp ao registado no total das empresas (Gráfico 6). A rendibilidade do setor praticamente não se alterou face a 2016.

A indústria de produtos agrícolas foi o único segmento cuja rendibilidade diminuiu (1 pp, para 8%, em 2017). Se tivessem sido consideradas as empresas comuns a ambos os períodos, a rendibilidade deste segmento teria registado um crescimento marginal. No comércio de produtos agrícolas e na agricultura a rendibilidade dos capitais próprios aumentou entre 2016 e 2017: 1 pp, em ambos os casos, para 9% e 5%, respetivamente.

 

A margem operacional (EBITDA/rendimentos) do setor ascendeu a 8% em 2017, valor próximo do registado em 2016 e abaixo da margem observada pelo total das empresas (12%) (Gráfico 7). Esta margem era menor nas pequenas e médias empresas (7%, valor abaixo dos 9% registados nas restantes classes de dimensão) e no comércio de produtos agrícolas (4%, que comparava com 10% na indústria de produtos agrícolas e 15% na agricultura). Em 2017, o setor registou uma margem líquida (resultado líquido do período/rendimentos) de 3%, inferior à registada no total das empresas (4%). A margem líquida era mais elevada nas grandes empresas (4%, valor acima dos 3% registados nas pequenas e médias empresas e dos 2% nas microempresas) e, por segmentos de atividade, na agricultura (5%, que comparava com 4% na indústria de produtos agrícolas e 2% no comércio de produtos agrícolas).

 

Situação financeira

A autonomia financeira do setor superava a do total das empresas. A dívida remunerada era menos preponderante. Os créditos comerciais constituíam uma fonte de financiamento, em termos líquidos, da agricultura

Entre 2016 e 2017, o rácio de autonomia financeira do setor aumentou 1 pp, para 41%, mantendo-se acima do valor do total das empresas (33%) (Gráfico 8).

O rácio de autonomia financeira era inferior no comércio de produtos agrícolas (35%) e mais elevado na indústria de produtos agrícolas (43%), independentemente de a agricultura ter registado o maior aumento deste indicador face a 2016 (2 pp, para 41%). Os restantes segmentos apresentaram crescimentos de 1 pp.

 

O passivo do setor diminuiu 1% em 2017 (aumento de 2% no total das empresas) (Gráfico 9). Ainda assim, se fossem consideradas apenas as empresas comuns ao setor em 2016 e 2017, o passivo do setor teria aumentado 4%.

A dívida remunerada, que agrega os títulos de dívida, empréstimos bancários, financiamentos de empresas do grupo e outros financiamentos obtidos, diminuiu 6%, quando considerada a totalidade das empresas do setor agrícola, e contribuiu em 3 pp para a diminuição do passivo. No entanto, caso fossem consideradas apenas as empresas comuns a ambos os períodos, a dívida remunerada teria registado um aumento de 2% em 2017.

 

Em 2017, esta componente representava 46% do passivo do setor, 8 pp inferior ao observado no total das empresas (Gráfico 10). Os empréstimos bancários eram a componente que mais se destacava, ao representarem 25% do passivo do setor. Estes eram particularmente relevantes nas pequenas e médias empresas (33%, valor inferior aos 23% registados nas microempresas e aos 15% nas grandes empresas) e na agricultura (30% do passivo do segmento, proporção que comparava com 26% na indústria de produtos agrícolas e 20% no comércio de produtos agrícolas).

A dívida comercial representava 28% do passivo do setor agrícola (16% no total das empresas). Em 2017, o financiamento líquido por dívida comercial era negativo neste setor; o diferencial entre os saldos de fornecedores e de clientes era equivalente a -2% do volume de negócios do setor (-3% para o total das empresas). Todas as classes de dimensão observavam valores negativos para este indicador. Por segmentos de atividade económica, o diferencial era mais negativo na indústria de produtos agrícolas (4%). A agricultura era o único segmento no qual os créditos comerciais constituíam, em termos líquidos, uma fonte de financiamento (2% do respetivo volume de negócios).

A redução dos gastos de financiamento e o aumento do EBITDA conduziram a uma diminuição da pressão financeira

Os gastos de financiamento do setor agrícola diminuíram 12% em 2017, redução superior à observada para o total das empresas (6%). Caso fossem consideradas apenas as empresas comuns a ambos os períodos, os gastos de financiamento do setor teriam diminuído 6%.

A redução dos gastos de financiamento foi maior na indústria de produtos agrícolas (17%), embora se fossem consideradas apenas as empresas comuns a este segmento em 2016 e 2017, a redução seria de 7%. Os restantes segmentos registaram reduções de 6% e 4%, no comércio de produtos agrícolas e na agricultura, respetivamente.

 

O efeito conjugado do aumento do EBITDA e da diminuição dos gastos de financiamento conduziu à redução da pressão financeira do setor agrícola. Em 2017, 10% do EBITDA do setor foi consumido por gastos de financiamento, proporção inferior à registada no total das empresas (16%) (Gráfico 11). A pressão financeira do setor diminuiu 2 pp em relação a 2016 (4 pp no total das empresas). A redução deste indicador foi transversal a todos os segmentos de atividade e classes de dimensão. São de destacar os decréscimos de 3 pp e de 4 pp registados na agricultura e nas microempresas, para 11% e 13%, respetivamente.

 

Segundo informação da Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal, o setor agrícola agregava, no final do primeiro semestre de 2018, 12% do montante de crédito obtido pelas empresas não financeiras junto do setor financeiro residente, parcela que aumentou 1 pp face ao final de 2016.

No final do primeiro semestre de 2018, 7,7% do crédito concedido ao setor encontrava-se em incumprimento, valor inferior ao registado no total das empresas (12,6%) (Gráfico 12). O rácio de crédito vencido do setor diminuiu 1,2 pp comparativamente com o registado no final de 2016, em linha com a redução registada no total das empresas (2,8 pp). A descida do rácio de crédito vencido do setor esteve associada à indústria de produtos agrícolas e ao comércio de produtos agrícolas, cujos rácios diminuíram 1,1 pp e 3,8 pp, comparativamente com o registado no final de 2016. No final do primeiro semestre de 2018, 7,4% do crédito dirigido à indústria de produtos agrícolas encontrava-se em incumprimento, valor inferior aos 11,5% registados para o comércio de produtos agrícolas. Não obstante, estes níveis de incumprimento eram superiores ao registado na agricultura (5,6%).

Notas

1 Na área “Empresas” do site do Banco de Portugal, cada empresa pode, de forma instantânea e gratuita, obter o seu Quadro da Empresa e do Setor. Esta informação permite à empresa comparar a sua situação económica e financeira com a das restantes empresas do mesmo setor de atividade e classe de dimensão, atendendo a um vasto conjunto de indicadores. No site do Banco de Portugal é ainda possível a qualquer utilizador aceder aos Quadros do Setor, os quais possibilitam a obtenção de informação agregada para o mesmo conjunto de indicadores relativamente a qualquer setor de atividade e classe de dimensão.

2 Para efeitos desta análise, o setor agrícola compreende não só as atividades agrícolas em sentido estrito, como também as atividades a jusante relacionadas com os produtos agrícolas, designadamente no âmbito da indústria e do comércio. A lista dos setores de atividade económica (delimitados com base na CAE-Rev.3) incluídos no setor agrícola encontra-se detalhada na publicação Estudos da Central de Balanços | 11 – Análise do Setor Agrícola, de dezembro de 2012. 

3 Nos "Documentos relacionados" da presente nota de informação estatística estão disponíveis, em ficheiro Excel, as séries estatísticas analisadas neste Estudo.

4 O setor exportador engloba o subconjunto das empresas que registavam exportações de bens e serviços, para as quais: (i) estas exportações representavam pelo menos metade do volume de negócios; ou (ii) em que pelo menos 10% do volume de negócios decorresse de exportações de bens e serviços, quando estas fossem superiores a 150 mil euros. Uma análise detalhada do setor exportador consta da publicação Estudos da Central de Balanços | 22 – Análise das empresas do setor exportador em Portugal, de junho de 2015, atualizada em dezembro de 2017 através da Nota de Informação Estatística n.º 122/2017

5 A evolução da situação económica e financeira das empresas do setor agrícola entre 2016 e 2017 reflete o desempenho das empresas que integravam o setor agrícola em ambos os períodos (empresas comuns) mas também daquelas que apenas integravam o setor num dos períodos (por terem entretanto cessado a sua atividade, por terem iniciado atividade apenas no período mais recente, ou por terem entretanto passado a integrar outros setores de atividade económica). Na medida em que as evoluções de alguns dos indicadores apresentados estão associadas, de forma significativa, a alterações registadas no universo de empresas em atividade no setor agrícola, foram pontualmente enunciadas as evoluções registadas quando consideradas as empresas do setor agrícola comuns a ambos os períodos.