- Select your idiom:
- PT
- EN
Nota de Informação Estatística - Análise das empresas do setor do mar 2017
O Banco de Portugal atualiza hoje o Estudo da Central de Balanços | 21 – Análise das empresas do setor do mar, com informação sobre a situação económica e financeira das empresas do setor do mar1,2 em 2017.
Esta informação é complementada com dados relativos ao final de 2018 sobre os empréstimos concedidos pelo setor financeiro residente.
Os resultados são apresentados por referência às classes de dimensão – microempresas, pequenas e médias empresas e grandes empresas – e segmentos de atividade económica (“pesca e atividades conexas”, “construção e reparação naval” e “transportes marítimos”), e comparados com os resultados do total das empresas3.
Este Estudo foi publicado pela primeira vez em 2015, com dados relativos ao período 2009-2013, e atualizado posteriormente com dados relativos a 2015.
Estrutura e demografia
O setor do mar integrava 3 mil empresas em 2017, das quais 81% eram microempresas. Ainda assim, 60% do volume de negócios foi gerado por pequenas e médias empresas
Em 2017, o setor do mar integrava 3 mil empresas, gerava 4 mil milhões de euros de volume de negócios e empregava 26 mil pessoas, parcelas representativas de 1% dos valores associados ao total das empresas em Portugal para todos os indicadores. O número de empresas em atividade no setor diminuiu marginalmente entre 2016 e 2017 (aumento de 1,7% no total das empresas).

Em 2017, foi criada uma nova empresa neste setor por cada uma que encerrou atividade. Este valor foi inferior ao observado no total das empresas (rácio natalidade/mortalidade de 1,3) (Gráfico 1). O rácio natalidade/mortalidade foi superior na construção e reparação naval e nos transportes marítimos (1,5 e 2,3 respetivamente), ao passo que na pesca e atividades conexas este rácio foi inferior à unidade (0,8).

Em 2017, 81% das empresas do setor do mar eram microempresas (Gráfico 2), sendo o seu peso similar em todos os segmentos de atividade. As pequenas e médias empresas (19% das empresas do setor) agregavam, no entanto, a maior parcela do volume de negócios (60%) e das pessoas ao serviço (59%). Esta classe de dimensão assumia maior relevância no segmento da pesca e atividades conexas, tendo em conta o volume de negócios e as pessoas ao serviço (63% e 62%, respetivamente). Já as grandes empresas (0,6% das empresas, responsáveis por 25% do volume de negócios e 22% das pessoas ao serviço do setor) assumiam menor relevância face ao observado no total das empresas (42% do volume de negócios e 29% das pessoas ao serviço do total das empresas). O peso desta classe de dimensão era superior na construção e reparação naval, ao gerar 54% do volume de negócios deste segmento.

A pesca e atividades conexas agregava 77% das empresas, 74% do volume de negócios e 75% das pessoas ao serviço do setor (Gráfico 3). Seguiam-se os transportes marítimos (12% das empresas, 18% do volume de negócios e 14% das pessoas ao serviço do setor) e a construção e reparação naval (11% das empresas, 8% do volume de negócios e 12% das pessoas ao serviço).
O setor assumia maior relevância na Região Autónoma dos Açores, ao representar 5% do volume de negócios gerado pelas empresas aí sediadas. No entanto, 81% do volume de negócios do setor era gerado por empresas com sede nas regiões Norte, Centro e na área metropolitana de Lisboa.

Atividade e rendibilidade
O volume de negócios do setor aumentou 5% em 2017, crescimento inferior ao do total das empresas. O EBITDA aumentou 70%
O volume de negócios do setor do mar aumentou 5% em 2017, crescimento inferior ao registado em 2016 (6%) e ao observado no total das empresas (9%), cenário que se verificou pela primeira vez desde 2010.
O crescimento do volume de negócios foi transversal às classes de dimensão: 16% nas grandes empresas, 5% nas microempresas e 1% nas pequenas e médias empresas. Por segmentos de atividade económica, o volume de negócios da pesca e atividades conexas aumentou 7% entre 2016 e 2017 e contribuiu em 5 pp para a variação registada pelo setor como um todo. O volume de negócios dos transportes marítimos aumentou 1%, enquanto a construção e reparação naval registou uma diminuição de 1%; ambos os segmentos contribuíram de forma residual para a evolução do volume de negócios do setor do mar em 2017 (Gráfico 4).
O mercado externo era responsável por 29% do volume de negócios do setor do mar, em 2017 (22%, no total das empresas). Os mercados externo e interno contribuíram em 2 pp e 3 pp, respetivamente, para a evolução do volume de negócios do setor, contributos similares aos registados em 2016. Pertenciam ao setor exportador4, em 2017, 13% das empresas do setor do mar (6% no total das empresas). Estas empresas eram responsáveis por 54% do volume de negócios e 45% das pessoas ao serviço do setor. Na construção e reparação naval e nos transportes marítimos, 15% das empresas integravam o setor exportador (12% na pesca e atividades conexas). Destacava-se o peso que o setor exportador assumia no volume de negócios do primeiro segmento (77%).

O EBITDA do setor do mar aumentou 70% em 2017 (15% no total das empresas), após uma diminuição de 19% em 2016 (Gráfico 5). Para esta evolução contribuiu, de forma significativa, o segmento da pesca e atividades conexas, com um aumento do EBITDA de 226% (correspondente a um contributo de 68 pp para a evolução do setor); esta variação esteve associada ao registo, em 2016, de imparidades ligadas a ativos fixos tangíveis (conduzindo a um decréscimo de 43% do EBITDA agregado no mesmo ano), a que se seguiu um aumento agregado do EBITDA decorrente da regularização de passivos do segmento. Em 2017, a construção e reparação naval registou, igualmente, um aumento do respetivo EBITDA (crescimento de 26%), depois de ter diminuído 37% em 2016, enquanto nos transportes marítimos esta rubrica continuou a aumentar, ainda que a um ritmo mais lento (5% em 2016 e 2% em 2017).

Rendibilidade do setor superou, pela primeira vez desde 2012, a rendibilidade do total das empresas. Margens operacional e líquida também foram superiores às do total das empresas
A rendibilidade dos capitais próprios do setor do mar foi de 9% em 2017, valor 8 pp superior ao registado em 2016 (Gráfico 6). Pela primeira vez desde 2012, a rendibilidade do setor superou a observada no total das empresas, ainda que marginalmente (0,4 pp). A pesca e atividades conexas registou a rendibilidade mais elevada (22%, em comparação com 15% na construção e reparação naval e 3% nos transportes marítimos), depois de um aumento de 27 pp face ao valor registado em 2016 (crescimento de 5 pp na construção e reparação naval e decréscimo de 1 pp nos transportes marítimos). Por classes de dimensão, as pequenas e médias empresas apresentaram a rendibilidade mais elevada (14%, após um crescimento de 15 pp face ao valor de 2016), enquanto as microempresas apresentaram uma rendibilidade negativa (-7%, em comparação com -8% em 2016). A rendibilidade dos capitais próprios das grandes empresas manteve o nível observado em 2016 (5%).

Em 2017, a margem operacional do setor do mar (EBITDA/rendimentos) foi de 14%, 3 pp acima do valor observado no total das empresas. A margem líquida (resultado líquido do período/rendimentos) foi de 6%, valor superior em 2 pp ao registado no total das empresas (Gráfico 7). Os transportes marítimos eram o segmento que apresentava as margens mais elevadas, bem como o maior diferencial entre estas: margem operacional de 27% (que compara com 11% na pesca e atividades conexas e 8% na construção e reparação naval) e margem líquida de 7% (que compara com 6% e 4% na pesca e atividades conexas e na construção e reparação naval, respetivamente).

Situação financeira
Autonomia financeira do setor aumentou em 2017. O passivo diminuiu 2%, na sequência da variação dos empréstimos bancários, que representavam 34% do passivo do setor
Em 2017, o rácio de autonomia financeira do setor do mar foi de 49% (33% no total das empresas), 4 pp acima do valor registado em 2016 (Gráfico 8). A autonomia financeira era crescente com a dimensão das empresas do setor: 19% nas microempresas, 52% nas pequenas e médias empresas e 56% nas grandes empresas. Os transportes marítimos continuavam a ser o segmento com a autonomia financeira mais elevada (60%, que compara com 37% na pesca e atividades conexas e 30% na construção e reparação naval), apesar de terem registado o menor crescimento entre 2016 e 2017 (2 pp, em comparação com aumentos de 7 pp na pesca e atividades conexas e de 3 pp na construção e reparação naval).

O passivo do setor diminuiu 2% entre 2016 e 2017, em contraste com o aumento de 2% registado no total das empresas (Gráfico 9). A dívida remunerada contribuiu em 1,7 pp para o decréscimo do passivo do setor. São de destacar os empréstimos bancários como a única componente que contribuiu para a diminuição da divida remunerada do setor (-3 pp, contributo associado a uma diminuição de 9% em 2017).

Ainda assim, o peso da dívida remunerada no total do passivo do setor (44%) praticamente não se alterou entre 2016 e 2017 (10 pp inferior ao registado no total das empresas) (Gráfico 10). Os empréstimos bancários representavam 34% do passivo do setor (22% no total das empresas) e assumiam maior relevância nas grandes empresas e na pesca e atividades conexas (42% e 36% dos respetivos passivos). No sentido oposto, apenas 13% do passivo da construção e reparação naval respeitava a empréstimos bancários.
A dívida comercial representava 19% do passivo do setor, em 2017, percentagem superior em 3 pp à observada no total das empresas. Esta componente era particularmente relevante na pesca e atividades conexas e na construção e reparação naval, ao representar 28% do passivo destes segmentos. No entanto, à semelhança do verificado na maioria dos setores de atividade económica, o financiamento líquido por dívida comercial era negativo no setor do mar. O diferencial entre os saldos de fornecedores e de clientes era negativo num montante equivalente a 4% do volume de negócios do setor (-3% no total das empresas), o que refletia a falta de capacidade das empresas do setor na obtenção de financiamento por esta via. Todas as classes de dimensão e segmentos de atividade económica registaram valores negativos para este indicador, destacando-se as grandes empresas (-7%) e os transportes marítimos (-9%), ao apresentarem os diferenciais mais negativos.
Reduções dos gastos de financiamento e da pressão financeira foram transversais a todas as classes de dimensão e segmentos de atividade económica
Os gastos de financiamento do setor do mar diminuíram 6% em 2017. Esta redução foi similar à registada no total das empresas e transversal às classes de dimensão e aos segmentos de atividade do setor. Os gastos de financiamento decresceram 27% nas microempresas, 5% nas grandes empresas e 4% nas pequenas e médias empresas. Por segmentos de atividade económica, a maior redução foi registada na construção e reparação naval (22%, variação que compara com diminuições de 9% nos transportes marítimos e de 4% na pesca e atividades conexas).

Entre 2016 e 2017, a redução dos gastos de financiamento e o aumento do EBITDA conduziram à redução da pressão financeira do setor do mar (7 pp). Em 2017, os gastos de financiamento consumiram 8% do EBITDA do setor, percentagem inferior à observada no total das empresas (16%) (Gráfico 11). O decréscimo da pressão financeira foi transversal às classes de dimensão e aos segmentos de atividade, tendo sido mais acentuado na pesca e atividades conexas. Neste segmento, a pressão financeira diminuiu 24 pp entre 2016 e 2017 (redução de 3 pp na construção e reparação naval e de 1 pp nos transportes marítimos). Ainda assim, a pesca e atividades conexas mantinha o rácio de pressão financeira mais elevado (10%, que compara com 5% nos restantes segmentos). Por classes de dimensão, a pressão financeira era mais elevada nas microempresas (16%, valor acima dos 12% registados nas grandes empresas e dos 6% nas pequenas e médias empresas).

Segundo a informação da Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal, o setor do mar agregava, no final de 2018, 2% do montante de crédito concedido às empresas não financeiras pelo setor financeiro residente, percentagem similar às observadas nos finais de 2016 e de 2017. Em dezembro de 2018, a maioria do crédito concedido ao setor do mar era dirigido ao segmento da pesca e atividades conexas (65%), seguido pelos transportes marítimos (33%) e pela construção e reparação naval (3%).
No final de 2018, encontrava-se em incumprimento 7,9% do crédito concedido às empresas do setor do mar, percentagem inferior à registada no total das empresas (9,4%) (Gráfico 12). O rácio de crédito vencido do setor aumentou 0,4 pp face ao registado no final de 2017, variação oposta à verificada no total das empresas (diminuição de 4,1 pp). A pesca e atividades conexas e a construção e reparação naval registaram reduções nos respetivos rácios de crédito vencido de 1,6 pp e 1,4 pp, para 7,5% e 5,9%, respetivamente. No final de 2018, os transportes marítimos detinham a parcela mais elevada de crédito em incumprimento (9,0%), após o aumento de 4,2 pp do rácio de crédito vencido face ao valor registado em dezembro de 2017.
Notas
1 Na área “Empresas” do site do Banco de Portugal, cada empresa pode, de forma instantânea e gratuita, obter o seu Quadro da Empresa e do Setor. Esta informação permite à empresa comparar a sua situação económica e financeira com a das restantes empresas do mesmo setor de atividade e classe de dimensão, atendendo a um vasto conjunto de indicadores. No site do Banco de Portugal é ainda possível a qualquer utilizador aceder aos Quadros do Setor, os quais possibilitam a obtenção de informação agregada para o mesmo conjunto de indicadores relativamente a qualquer setor de atividade e classe de dimensão.
2 Para efeitos desta análise, o setor do mar compreende as subclasses 03111, 03112, 03210, 08931, 10201, 10202, 10203, 10204, 46381, 47230 (“pesca e atividades conexas”), 30111, 30112, 30120, 33150 (“construção e reparação naval”) e 50101, 50102, 50200, 52220, 77340 e 93292 (“transportes marítimos”) da CAE-Rev.3.
3 Nos "Documentos relacionados" da presente nota de informação estatística estão disponíveis, em ficheiro Excel, as séries estatísticas analisadas neste Estudo.
4 O setor exportador engloba o subconjunto das empresas que registavam exportações de bens e serviços, para as quais: (i) estas exportações representavam pelo menos metade do volume de negócios; ou (ii) em que pelo menos 10% do volume de negócios decorresse de exportações de bens e serviços, quando estas fossem superiores a 150 mil euros. Uma análise detalhada do setor exportador consta da publicação Estudos da Central de Balanços | 22 – Análise das empresas do setor exportador em Portugal, de junho de 2015, atualizada em dezembro de 2017 através da Nota de Informação Estatística n.º 122/2017.