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Nota de Informação Estatística - Análise das empresas da indústria das bebidas 2017

O Banco de Portugal atualiza hoje o Estudo da Central de Balanços | 27 – Análise das empresas da indústria das bebidas, com informação sobre a situação económica e financeira das empresas deste setor1,2 em 2017.

Esta informação é complementada com dados relativos ao primeiro semestre de 2018 sobre os empréstimos concedidos pelo setor financeiro residente.

Os resultados são apresentados por referência às classes de dimensão – microempresas, pequenas e médias empresas e grandes empresas – e aos segmentos de atividade económica (“vinho”, “cerveja” e “refrigerantes e águas”), e comparados com os resultados do total das empresas3.

Este estudo foi publicado pela primeira vez em 2017, com dados relativos ao período 2011-2015.

Estrutura e demografia

Número de empresas aumentou 4% em 2017. O segmento do vinho era o mais relevante ao representar 87% das empresas

Em 2017, a indústria das bebidas integrava cerca de mil e duzentas empresas (0,3% do total das empresas em Portugal), representativas de 1% do volume de negócios (3,4 mil milhões de euros) e 0,5% do número de pessoas ao serviço (14,5 mil pessoas) das empresas com sede em Portugal.

O número de empresas em atividade na indústria das bebidas cresceu 4% em 2017, 2,3 pp acima do total das empresas. No entanto, entre 2016 e 2017, o peso do setor no total das empresas não se alterou de forma substancial, tanto ao nível do número de empresas, como do número de pessoas ao serviço e do volume de negócios. 

 

 

Em 2017, por cada empresa que encerrou atividade na indústria das bebidas, foram criadas 1,8 novas empresas (rácio natalidade/mortalidade de 1,3 no total das empresas) (Gráfico 1). O valor do rácio natalidade/mortalidade do setor era, ainda assim, inferior ao observado em 2016 (rácio natalidade/mortalidade de 3,1).

O crescimento do número de empresas em atividade no setor em 2017 esteve associado ao aumento do número de microempresas (rácio natalidade/mortalidade de 2,0). Todos os segmentos de atividade registaram rácios de natalidade/mortalidade superiores à unidade. A cerveja apresentava o rácio mais elevado (2,0, que compara com 1,8 no vinho e 1,5 nos refrigerantes e águas).

 

Em 2017, 77% das empresas da indústria das bebidas eram microempresas. Estas geraram 4% do volume de negócios e agregavam 13% das pessoas ao serviço do setor (Gráfico 2). As grandes empresas (0,7% das empresas) eram responsáveis pela maior parcela do volume de negócios (50%) enquanto as pequenas e médias empresas (22% das empresas) agregavam a maior parcela das pessoas ao serviço (56%).

 

O vinho era o segmento mais relevante ao representar 87% das empresas, 65% do número de pessoas ao serviço e 51% do volume de negócios do setor (Gráfico 3). A cerveja (8% das empresas) era responsável por 27% do volume de negócios e 14% das pessoas ao serviço e os refrigerantes e águas (5% das empresas) agregavam 22% do volume de negócios e 21% das pessoas ao serviço do setor.

O peso da cerveja aumentou 1 pp no que respeita ao número de empresas e 2 pp em termos do volume de negócios entre 2016 e 2017. Em oposição, o peso do vinho diminuiu 1 pp tendo em conta o número de empresas e o volume de negócios.

A região Norte concentrava o maior número de empresas da indústria das bebidas (41%), bem como a maior parcela do volume de negócios (46%) e do número de pessoas ao serviço do setor (40%). A indústria das bebidas assumia maior relevância no Alentejo, ao representar 3% do volume de negócios das empresas aí sediadas.

Atividade e rendibilidade

Volume de negócios e EBITDA aumentaram. 26% do volume de negócios tinha origem no mercado externo. Setor exportador era responsável por 59% do volume de negócios da indústria das bebidas

O volume de negócios da indústria das bebidas aumentou 3% em 2017, crescimento inferior ao registado em 2016 (4%) e ao verificado, em 2017, no total das empresas (9%).

O crescimento do volume de negócios em 2017 foi transversal a todas as classes de dimensão (5% nas microempresas e nas pequenas e médias empresas e 2% nas grandes empresas). Por segmentos de atividade, destacou-se a cerveja, com um crescimento do volume de negócios de 12% e um contributo de 3 pp para a evolução do volume de negócios do setor (Gráfico 4). O vinho registou um aumento do volume de negócios de 1% (contributo de 1 pp para a variação do setor), enquanto o segmento dos refrigerantes e águas registou uma diminuição de 2% (contributo negativo de 0,4 pp).

Em 2017, 26% do volume de negócios da indústria das bebidas tinha origem no mercado externo, parcela similar à registada em 2016. Os mercados interno e externo contribuíram, respetivamente, em 2 e 1 pp para a evolução do volume de negócios do setor em 2017. Por segmentos de atividade, o mercado externo contribuiu em 5 pp para a variação do volume de negócios da cerveja e em 1 pp para a variação do volume de negócios do vinho. Nos refrigerantes e águas, o contributo do mercado externo foi negativo em 5 pp.

O setor exportador4 integrava 16% das empresas da indústria das bebidas, proporção superior à registada no total das empresas (6%). Este setor era responsável por 59% do volume de negócios e 52% das pessoas ao serviço da indústria das bebidas. O vinho englobava a maioria das empresas (95%), do volume de negócios (54%) e do número de pessoas ao serviço (68%) do setor exportador desta indústria.

 

O EBITDA da indústria das bebidas aumentou 9% em relação a 2016 (15% no total das empresas) (Gráfico 5). O EBITDA das grandes empresas e das pequenas e médias empresas aumentou 13% e 5%, respetivamente, ao passo que o EBITDA das microempresas diminuiu 12%. A cerveja registou o crescimento mais elevado desta rubrica (26%), seguindo-se o vinho (11%). Nos refrigerantes e águas, o EBITDA diminuiu 12%.

Aumento da rendibilidade dos capitais próprios do setor em 2017

A rendibilidade dos capitais próprios da indústria das bebidas foi de 7% em 2017, mais 1 pp do que a registada em 2016 e menos 2 pp do que no total das empresas (Gráfico 6). No segmento da cerveja, a rendibilidade aumentou 10 pp, para 18%, em 2017. No vinho, o aumento foi de 1 pp, para 6%. Nos refrigerantes e águas, a rendibilidade diminuiu 2 pp, para 7%.

 

Em 2017, a margem operacional do setor (EBITDA/rendimentos) situou-se em 15% e a margem líquida (resultado líquido do período/rendimentos) em 6%, valores superiores aos registados no total das empresas (11% e 4%, respetivamente) (Gráfico 7). A cerveja apresentou o melhor desempenho do setor em termos da margem operacional (17%), seguindo-se o vinho (15%) e os refrigerantes e águas (14%). O vinho era o segmento que apresentava a maior margem líquida (7%, valor superior aos 5% registados nos refrigerantes e águas e 4% na cerveja).

Situação financeira

Autonomia financeira do setor era superior à do total das empresas, em particular no segmento do vinho. Menor relevância dos empréstimos bancários no segmento da cerveja

Em 2017, o rácio de autonomia financeira da indústria das bebidas foi de 46% (33% no total das empresas), valor similar ao registado em 2016 (Gráfico 8). Por classes de dimensão, as pequenas e médias empresas apresentavam a autonomia financeira mais elevada (52%), seguindo-se as grandes empresas (38%). A autonomia financeira das microempresas diminuiu 9 pp, para 35% em 2017. O recurso a capitais próprios era superior no segmento do vinho (autonomia financeira de 52%), em comparação com o verificado nos refrigerantes e águas (43%) e na cerveja (22%, segmento dominado por grandes empresas).

 

O passivo do setor aumentou marginalmente (0,4%) em relação a 2016 (aumento de 2% no total das empresas) (Gráfico 9). Esta variação foi determinada pelo contributo positivo dos fornecedores (1,2 p.p.), compensado, em parte, pelos contributos negativos dos outros passivos (-0,6 pp) e da dívida remunerada (-0,2 pp).

 

Em 2017, a dívida remunerada representava 55% do passivo da indústria das bebidas (54% no total das empresas) (Gráfico 10). Os empréstimos bancários representavam 25% do passivo do setor. O peso da dívida remunerada era superior no segmento da cerveja (62% do passivo), em comparação com o verificado nos refrigerantes e águas (57%) e no vinho (52%). A cerveja distinguia-se dos restantes segmentos ao apresentar uma maior relevância dos financiamentos de empresas do grupo (57% do passivo) e um reduzido peso dos empréstimos bancários (2%).

A dívida comercial representava 20% do passivo da indústria das bebidas em 2017 (16% no total das empresas). Tal como na maioria dos setores de atividade, o financiamento líquido por dívida comercial era negativo na indústria das bebidas, sendo o diferencial entre os saldos de fornecedores e de clientes equivalente a 6% do volume de negócios do setor (-3% para o total das empresas). O financiamento líquido por dívida comercial era negativo em todos os segmentos de atividade, correspondendo a 9% do volume de negócios dos refrigerantes e águas, 6% no vinho e 3% na cerveja.

Gastos de financiamento diminuíram 7%. Redução da pressão financeira do setor em 2017

Os gastos de financiamento da indústria das bebidas diminuíram 7% entre 2016 e 2017 (redução de 6% no total das empresas). Esta redução foi transversal a todas as classes de dimensão e segmentos de atividade do setor. As pequenas e médias empresas registaram, em termos médios, o maior decréscimo dos gastos de financiamento (11%, que compara com diminuições de 4% nas grandes empresas e 3% nas microempresas). Por segmentos de atividade, os gastos de financiamento diminuíram 9% nos refrigerantes e águas, 8% no vinho e 3% na cerveja.

 

O decréscimo dos gastos de financiamento e o crescimento do EBITDA determinaram uma redução de 2 pp da pressão financeira da indústria das bebidas entre 2016 e 2017. Os gastos de financiamento consumiram 11% do EBITDA gerado pelo setor em 2017, proporção inferior à registada no total das empresas (16%, menos 4 pp do que em 2016) (Gráfico 11). A pressão financeira das microempresas (21%) aumentou 2 pp entre 2016 e 2017, tendo diminuído para as restantes classes de dimensão: 11% nas pequenas e médias empresas e 10% nas grandes empresas (menos 2 pp do que em 2016, em ambos os casos). O segmento dos refrigerantes e águas apresentava a maior pressão financeira (21%, mais 1 pp do que em 2016), seguindo-se o vinho (10%, menos 2 pp do que em 2016). Na cerveja, os gastos de financiamento consumiram 6% do EBITDA, menos 2 pp do que em 2016.

 

A informação da Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal evidencia que a indústria das bebidas agregava, no final do primeiro semestre de 2018, 1,3% do montante de crédito obtido pelas empresas não financeiras junto do setor financeiro residente. Esta parcela não se alterou em relação ao final de 2017.

No final do primeiro semestre de 2018, encontrava-se em incumprimento 4,1% do crédito concedido ao setor, parcela igual à registada no final de 2017 e inferior à verificada no total das empresas (12,6%) (Gráfico 12). O vinho apresentava o rácio de crédito vencido mais elevado no final do primeiro semestre de 2018 (5%, valor superior aos 2% registados nos refrigerantes e águas e aos 0,2% na cerveja).

Notas

1 Na área "Empresas" do site do Banco de Portugal, cada empresa pode, de forma instantânea e gratuita, obter o seu Quadro da Empresa e do Setor. Esta informação permite à empresa comparar a sua situação económica e financeira com a das restantes empresas do mesmo setor de atividade e classe de dimensão, atendendo a um vasto conjunto indicadores. No site do Banco de Portugal é ainda possível a qualquer utilizador aceder aos Quadros do Setor, os quais possibilitam a obtenção de informação agregada para o mesmo conjunto de indicadores relativamente a qualquer setor de atividade e classe de dimensão.

2 Para efeitos desta análise, a indústria das bebidas engloba as empresas classificadas no âmbito da divisão 11 – indústria das bebidas, da CAE-Rev.3. O setor foi dividido em três segmentos de atividade, designadamente “vinho” (classes 1101 – fabricação de bebidas alcoólicas destiladas, 1102 – indústria do vinho e 1104 – fabricação de vermutes e de outras bebidas fermentadas não destiladas); “cerveja” (classes 1103 – fabricação de cidra e outras bebidas fermentadas de frutos, 1105 – fabricação de cerveja e 1106 – fabricação de malte); e “refrigerantes e águas” (classe 1107 – fabricação de refrigerantes; produção de águas minerais naturais e de outras águas engarrafadas). 

3 Nos "Documentos relacionados" da presente nota de informação estatística estão disponíveis, em ficheiro Excel, as séries estatísticas analisadas neste Estudo.

4 O setor exportador engloba o subconjunto das empresas que registavam exportações de bens e serviços, para as quais: (i) estas exportações representavam pelo menos metade do volume de negócios; ou (ii) em que pelo menos 10% do volume de negócios decorresse de exportações de bens e serviços, quando estas fossem superiores a 150 mil euros. Uma análise detalhada do setor exportador consta da publicação Estudos da Central de Balanços | 22 – Análise das empresas do setor exportador em Portugal, de junho de 2015, atualizada em dezembro de 2017 através da Nota de Informação Estatística n.º 122/2017.