Comunicado do Banco de Portugal sobre o Relatório do Conselho de Administração de 2022
O Relatório do Conselho de Administração do Banco de Portugal de 2022 adota um novo formato. Retomando uma tradição interrompida em 2012, a primeira parte é dedicada à análise da economia portuguesa em 2022. A segunda centra-se na atividade do Banco de Portugal e a terceira apresenta o relatório de gestão e contas.
A economia
A evolução da economia portuguesa em 2022 foi influenciada pela conjugação dos efeitos da recuperação da crise pandémica, do início da invasão atroz da Ucrânia pela Rússia e da alteração da política monetária na generalidade dos bancos centrais.
A invasão originou um aumento muito acentuado dos preços da energia e dos bens alimentares. Este aumento propagou-se a outros bens e serviços na economia. A taxa de inflação média anual atingiu 8,1% em Portugal e 8,4% na área do euro.
O Banco Central Europeu (BCE) reverteu a orientação acomodatícia da política monetária, iniciando, em julho, um ciclo de subida das taxas de juro diretoras.
Apesar da subida da inflação e das alterações das condições de financiamento, a economia portuguesa apresentou um quadro macroeconómico sólido. Comparando com os valores pré-pandémicos, a atividade económica cresceu ligeiramente mais em Portugal do que na área do euro.
As exportações foram a componente da procura global com maior dinamismo, aumentando 16,7%, com um aumento de 5,1% nos bens e de 43,1% nos serviços, impulsionados pela forte procura associada ao turismo.
O emprego cresceu 2% e a taxa de desemprego situou-se em 6%, valor inferior ao observado antes da pandemia e abaixo da taxa de desemprego natural. Os salários por trabalhador cresceram 6,1%, atingindo 7,6% no setor privado.
O défice das administrações públicas situou-se em 0,4% do PIB e o rácio da dívida pública em 113,9% do PIB.
O Banco
Num contexto de subida generalizada e persistente dos preços, o Banco de Portugal centrou as suas análises e estudos no apoio ao desenho de políticas públicas e à atuação dos agentes económicos.
Com o objetivo de promover a resiliência do sistema financeiro e prevenir o incumprimento das famílias, recomendou novos limites à maturidade máxima das novas operações de crédito à habitação. Escrutinou o modelo de negócio, o governo interno e a resiliência financeira das instituições supervisionadas. Deu ainda o aconselhamento para a definição e implementação do quadro legal destinado a mitigar os efeitos da subida das taxas de juro nos contratos de crédito.
O Banco de Portugal manteve a aposta no fortalecimento da eficácia preventiva do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo. Os planos de resolução das instituições sob sua responsabilidade direta foram atualizados e aprofundados.
A área da literacia económica, estatística e financeira dos cidadãos foi reforçada e alargada, em linha com a orientação estratégica de aproximação à sociedade.
As infraestruturas de mercado, das quais depende a movimentação de recursos financeiros na economia, funcionaram sem perturbações. Foi concluída a implementação da Estratégia Nacional para os Pagamentos de Retalho e criado um grupo de contacto com o mercado sobre o euro digital.
A estrutura e modelo de funcionamento do Banco foram alterados para melhor responderem aos novos desafios relacionados com a análise de grandes quantidades de dados, a gestão de risco e a inovação tecnológica. Também foram adotadas medidas promotoras da sustentabilidade ambiental na gestão da carteira de ativos de investimento próprios, na emissão monetária e na gestão dos edifícios.


No final de 2022, o balanço do Banco de Portugal totalizava 198 mil milhões de euros, menos 21 mil milhões de euros do que no final de 2021, interrompendo o ciclo de crescimento verificado nos últimos 7 anos. Esta evolução traduziu, principalmente, a diminuição do financiamento às instituições de crédito, promovida pela alteração da política monetária da área do euro.
O resultado antes de provisões e impostos (RAPI) foi de 668 milhões de euros, menos 73 milhões de euros do que em 2021. Esta descida reflete sobretudo o impacto da subida acentuada das taxas de juro a partir do segundo semestre do ano.
O aumento dos resultados com operações financeiras no âmbito dos ativos de gestão (de 159 milhões de euros, mais 84 milhões de euros do que em 2021) e o resultado extraordinário da última prescrição de notas de escudos (94 milhões de euros) deram contributos positivos.
Os gastos de funcionamento totalizaram 196 milhões de euros, mantendo-se estáveis face a 2021 (+0,4%) e refletindo a política de racionalização e contenção de despesas.
Considerando que o risco de estrutura de balanço poderá continuar a materializar-se nos próximos anos, o Conselho de Administração decidiu reforçar a provisão para riscos gerais em 235 milhões de euros.
Apurado o imposto sobre o rendimento, o resultado líquido totalizou 297 milhões de euros (508 milhões de euros em 2021). Este resultado possibilitou a distribuição de dividendos ao Estado no valor de 238 milhões de euros. Considerando o imposto sobre o rendimento corrente, foram entregues ao Estado 371 milhões de euros.
Se não assistiu, veja aqui a conferência de imprensa da apresentação do Relatório do Conselho de Administração de 2022

