Comunicado do Banco de Portugal sobre o Relatório de Estabilidade Financeira de maio de 2023
Nos últimos meses, os riscos para a estabilidade financeira acompanharam o enquadramento geopolítico tenso, as pressões inflacionistas e a relativa turbulência nos mercados financeiros internacionais, espoletada por desenvolvimentos recentes em bancos nos EUA e na Suíça. Apesar de refletirem fragilidades idiossincráticas, os eventos nessas instituições suscitaram um quadro geral de incerteza, que motiva uma monitorização acrescida por parte das autoridades. O Banco Central Europeu prosseguiu o ciclo de subida de taxas de juro, apesar da recente desaceleração, e sinalizou a sua capacidade para apoiar a liquidez ao setor bancário da área do euro, se necessário, e preservar a transmissão da política monetária.
Os principais riscos e vulnerabilidades para a estabilidade financeira são:
- A turbulência acrescida nos mercados financeiros internacionais, implicando potenciais efeitos de contágio entre os ciclos financeiro e económico. Uma eventual aversão ao risco mais generalizada teria impactos adversos sobre os custos de financiamento, a valorização dos ativos e a atividade económica;
- Uma trajetória menos favorável para o rácio da dívida pública. Os principais riscos associados a este processo derivam de um enquadramento económico e financeiro potencialmente mais adverso, com menor crescimento económico e inflação mais persistente, que motive uma reação mais intensa e duradoura das autoridades monetárias por via de taxas de juro mais elevadas;
- O potencial incumprimento das famílias mais vulneráveis, devido à inflação elevada, à subida das taxas de juro de curto prazo e a um potencial agravamento da taxa de desemprego. A preponderância da taxa de juro variável no stock de empréstimos à habitação leva a que a subida das taxas de juro de curto prazo se traduza num aumento relativamente rápido e significativo dos encargos com a dívida;
- O potencial incumprimento das empresas mais vulneráveis. Apesar da evidência recente de resiliência do setor, um contexto económico e financeiro mais desfavorável, caraterizado por menor crescimento económico e taxas de juro mais elevadas, poderá aumentar a percentagem de empresas vulneráveis;
- O arrefecimento no mercado imobiliário residencial, com impacto sobre os preços e sobre o valor do colateral de créditos garantidos por imóveis. O contexto de subida das taxas de juro deverá contribuir para a desaceleração dos preços no mercado imobiliário residencial em Portugal;
- A materialização dos riscos de mercado e de crédito no setor bancário, refletindo a interação entre uma evolução mais adversa das variáveis do cenário macrofinanceiro e as vulnerabilidades dos setores de contrapartida.
Perante os desafios e os riscos identificados, espera-se que os bancos aproveitem a melhoria do contexto económico e financeiro para adequar as condições dos empréstimos à capacidade de pagamento dos clientes. Espera-se também que mantenham políticas prudentes de constituição de imparidades e de conservação de capital, que permitam aumentar a sua capacidade de absorver perdas e de financiar a economia.
No quadro das suas atribuições, o Banco de Portugal manterá um acompanhamento próximo das condições reais e nominais da economia, atuando em função da sua avaliação de riscos.

Se não assistiu, veja aqui a conferência de imprensa da apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira de maio de 2023

