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Comunicado do Banco de Portugal sobre o Boletim Económico de outubro de 2022

A economia portuguesa cresce 6,7% em 2022, continuando a beneficiar da recuperação do turismo e do consumo privado. A evolução da atividade ao longo do ano é marcada pela recuperação do nível pré-pandemia no primeiro trimestre e por um abrandamento posterior, que se traduz numa relativa estabilização do PIB.

O enquadramento externo e financeiro tem vindo a deteriorar-se devido aos choques gerados pela invasão da Ucrânia, que resultaram no aumento da inflação e das taxas de juro. Os efeitos adversos destes choques têm sido atenuados pelo bom desempenho do mercado de trabalho, pela poupança acumulada durante a crise pandémica e pelas medidas de apoio. 

Em 2022, a inflação aumenta para 7,8%, refletindo as crescentes pressões externas sobre os preços. A forte procura dos bens e serviços, cujo consumo foi condicionado durante a pandemia, também contribui para a trajetória ascendente da inflação, esperando-se uma inflexão no final do ano. 

As projeções para o PIB e para a inflação em 2022 são revistas em alta face ao Boletim Económico de junho. No caso do PIB, o efeito da recuperação mais forte em 2021 e na primeira metade de 2022 supera a revisão em baixa no segundo semestre de 2022.

O consumo privado cresce 5,5% em 2022, beneficiando da eliminação das restrições associadas à pandemia e da realização de despesas adiadas. O rendimento disponível real estagna, condicionado pelo perfil da inflação, enquanto a taxa de poupança se reduz de 9,8% para 4,9%.

O investimento abranda, crescendo 0,8%, num ambiente de restrições de oferta, aumento dos custos de produção, agravamento das condições de financiamento, baixa execução dos fundos do PRR e elevada incerteza.

As exportações de bens e serviços mantêm um dinamismo elevado (17,9%), acima da procura externa, implicando ganhos adicionais de quota de mercado. Esta evolução é impulsionada pelas exportações de serviços, em particular os relacionados com o turismo.

O excedente da balança corrente e de capital permanece em 0,6% do PIB em 2022. 

O mercado de trabalho apresenta um desempenho notável, mas com alguns sinais de moderação ao longo do ano. O emprego cresce 2,3% (1,9% em 2021), enquanto a taxa de desemprego volta a diminuir, situando-se em 5,8%, valor historicamente baixo.

As perspetivas de curto prazo para a economia portuguesa deterioraram-se, refletindo as repercussões da invasão da Ucrânia. O impacto dos choques adversos que ocorreram ao longo do ano será mais notório em 2023, antecipando-se uma desaceleração significativa da atividade económica face a 2022. 

Num enquadramento externo e financeiro mais desfavorável, é urgente acelerar a prossecução das reformas no âmbito do PRR e promover uma utilização efetiva e eficaz dos respetivos fundos, para sustentar o crescimento económico no curto e médio prazo. O choque negativo sobre os termos de troca implica uma perda de rendimento real da economia que deve ser partilhada por todos os agentes, evitando-se aumentos das margens das empresas e de salários que possam gerar pressões persistentes sobre os preços. O efeito diferenciado do aumento da inflação sobre as famílias e empresas pode justificar a adoção de medidas temporárias e específicas, que permitam amortecer o impacto sobre os segmentos mais vulneráveis.