Comunicado do Banco de Portugal sobre o Boletim Económico de outubro de 2019
O Banco de Portugal publica hoje o Boletim Económico de outubro de 2019. O Boletim analisa a evolução da economia portuguesa no primeiro semestre de 2019, atualiza as projeções macroeconómicas para o conjunto do ano e apresenta uma apreciação aprofundada da convergência real na União Europeia (UE) e do desempenho da economia portuguesa.
Atualização das projeções para 2019


A atividade económica em Portugal deverá continuar a expandir-se em 2019, ainda que a um ritmo inferior ao observado no passado recente. Após um crescimento de 2,4% em 2018, o produto interno bruto (PIB) deverá crescer 2% em 2019.O crescimento projetado para Portugal é superior em 0,9 pp ao estimado pelo Banco Central Europeu para a área do euro. Este diferencial de crescimento positivo, que se observa desde 2016, deve ser enquadrado numa perspetiva mais longa. De facto, nos últimos 25 anos o PIB per capita português não se aproximou dos valores médios observados na UE.
As projeções do Banco de Portugal para a atividade económica e a balança corrente e de capital não são diretamente comparáveis com as publicadas no Boletim Económico de junho, devido à revisão recente das séries de contas nacionais e de balança de pagamentos.
Num contexto de abrandamento da atividade mundial e, de forma mais marcada, do comércio mundial, estima-se que as exportações de bens e serviços cresçam 2,3% em 2019, depois de terem aumentado 3,8% em 2018. Os exportadores portugueses deverão continuar a registar ganhos de quota nos mercados externos, sobretudo nos setores do turismo e de produção automóvel.
As importações deverão crescer 4,6% em 2019 (menos 1,2 pp do que no ano anterior), num contexto de ligeiro abrandamento da atividade económica.
Projeta-se que a formação bruta de capital fixo suba 7,2% em 2019, após um crescimento de 5,8% no ano anterior. O maior ritmo de crescimento reflete o comportamento da construção, influenciado pela execução de alguns projetos de infraestruturas de grande dimensão, nalguns casos associados a investimento público e beneficiando de financiamento europeu.
O consumo privado deverá crescer 2,3% em 2019, uma evolução mais moderada do que a observada no ano anterior (3,1%) e mais próxima do crescimento do PIB, refletindo a evolução do consumo corrente e dos gastos em bens duradouros.
No conjunto do ano, a economia portuguesa deverá apresentar uma capacidade de financiamento, medida pelo saldo da balança corrente e de capital, equivalente a 0,5% do PIB, um valor inferior ao do ano anterior (1,4% do PIB). Esta evolução reflete a deterioração da balança de bens e serviços.
As projeções apontam para que, em 2019, as condições no mercado de trabalho continuem a melhorar, mas a um ritmo menor. O emprego deverá aumentar 0,9% (menos 1,4 pp do que no ano anterior). A taxa de desemprego, que em 2018 foi de 7%, deverá continuar a diminuir, atingindo 6,4% em 2019. Os salários deverão acelerar, num contexto de redução dos recursos disponíveis no mercado de trabalho.
A inflação, medida pela taxa de variação do índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC), deverá situar-se em 0,4% em 2019, o que compara com 1,2% no ano passado.

A economia portuguesa no primeiro semestre de 2019
No primeiro semestre de 2019, a economia portuguesa desacelerou ligeiramente, apesar de continuar a crescer a um ritmo superior ao da área do euro. O PIB aumentou 2% em termos homólogos (menos 0,2 pp do que no segundo semestre do ano anterior), evidenciando alguma resiliência face ao conjunto da área do euro, cuja atividade económica registou um abrandamento mais acentuado nos últimos trimestres.
As exportações subiram 2,3% até ao final de junho, acelerando ligeiramente face ao segundo semestre de 2018, mas mantendo um crescimento inferior ao verificado nos anos anteriores. A perda de dinamismo das exportações ocorre num contexto de abrandamento do comércio mundial e da procura externa dirigida aos exportadores nacionais. Por seu turno, as importações registaram um crescimento superior ao das exportações, aumentando 5,8%.
A formação bruta de capital fixo cresceu muito acima do PIB, apresentando uma taxa de variação homóloga de 9,5% (5,5% no semestre anterior). Esta evolução foi transversal às principais componentes, destacando-se a construção. O dinamismo do investimento em construção esteve associado a um aumento significativo dos empréstimos ao setor.
O consumo privado cresceu 2,3% no primeiro semestre de 2019, o que compara com 3,2% no semestre anterior. Esta desaceleração ocorreu num contexto de diminuição da confiança dos consumidores e de manutenção de um crescimento robusto do rendimento disponível real, refletindo ganhos de emprego, maior crescimento dos salários e a redução da taxa de inflação. A taxa de poupança registou uma diminuição ligeira no período.
O emprego aumentou 1,2% no primeiro semestre de 2019, depois de ter crescido 1,9% no semestre anterior. A taxa de desemprego manteve a trajetória descendente, fixando-se em 6,5% no final de junho, o valor mais baixo desde o primeiro semestre de 2004. As limitações na oferta de trabalho e a dinâmica da procura têm contribuído para aumentar a pressão sobre os salários.
Os preços no consumidor desaceleraram na primeira metade do ano, tendo a taxa de inflação atingido 0,7% (1,3 % no último semestre de 2018).
Em termos globais, a atual conjuntura de crescimento da economia portuguesa insere-se num contexto de deterioração do enquadramento internacional e de elevada incerteza. Tal implica que este momento deve ser entendido como uma janela de oportunidade para reforçar políticas e reformas estruturais que contribuam para a correção das principais debilidades da economia portuguesa. Os progressos em termos de capital humano, capital por trabalhador e enquadramento institucional são cruciais para promover uma retoma duradoura e expressiva da convergência dos níveis de rendimento dos portugueses para a média europeia, mas também para assegurar a resiliência e reduzir a exposição e vulnerabilidade da economia a riscos externos.
O Boletim Económico de outubro inclui um tema em destaque: “A convergência real na União Europeia e o desempenho relativo da economia portuguesa”


O Boletim inclui ainda seis caixas:
- Caixa 1 | As extensões recentes da forward guidance do BCE e as expetativas de analistas económicos quanto à evolução das taxas de juro
- Caixa 2 | Investimento e endividamento das empresas portuguesas
- Caixa 3 | O contributo dos estrangeiros para a evolução da população ativa em Portugal
- Caixa 4 | As práticas de gestão em Portugal numa perspetiva internacional
- Caixa 5 | Revisões das estatísticas de contas nacionais e da balança de pagamentos
- Caixa 6 | A produção automóvel em Portugal: caracterização, evolução recente e desafios