Comunicado do Banco de Portugal sobre o Boletim Económico de outubro de 2016
O Banco de Portugal publica hoje o Boletim Económico de outubro de 2016. O Boletim analisa a evolução da economia portuguesa no primeiro semestre de 2016 e atualiza as projeções macroeconómicas para o ano de 2016.
A economia portuguesa na primeira metade de 2016
No primeiro semestre de 2016, o PIB em Portugal apresentou um crescimento em volume de 0,9% em termos homólogos e de 0,5% em relação ao segundo semestre de 2015. Em termos da evolução do PIB por habitante – variável que se tornou particularmente relevante dadas as alterações demográficas significativas que se verificaram nos últimos anos em Portugal – no primeiro semestre de 2016 o PIB per capita terá crescido 1,3% em termos homólogos (2,1% em 2015).
Num quadro de crescimento do emprego e de redução marcada do desemprego, a produtividade do trabalho tem registado uma relativa estabilização nos últimos trimestres, para o que terá contribuído a forte queda acumulada do investimento nos últimos anos. Não obstante, continuou a observar-se uma orientação crescente dos fatores produtivos para os segmentos da economia mais expostos à concorrência internacional, uma melhoria gradual do nível de capital humano da força de trabalho e uma orientação dos fluxos de crédito para as empresas com melhor perfil de risco.
O ritmo de crescimento da atividade económica em Portugal continua a ser inferior ao observado em anteriores ciclos económicos, fruto do elevado endividamento público e privado, de uma evolução demográfica adversa e do fraco dinamismo da procura externa. O grau excecionalmente acomodatício da política monetária do Eurosistema tem contribuído para uma melhoria das condições de financiamento em Portugal, mas não permanecerá indefinidamente.
O momento atual representa, portanto, uma oportunidade única para ancorar as expetativas dos agentes económicos, internos e externos, num regime que promova a estabilidade macroeconómica e o crescimento económico sustentável. A correção estrutural dos desequilíbrios macroeconómicos acumulados exige um quadro institucional e fiscal previsível, a redução sustentada do nível da dívida pública e a prossecução de reformas estruturais que favoreçam o investimento, a inovação e a mobilidade de fatores.
Projeções para a economia portuguesa em 2016
O Boletim Económico atualiza também as projeções para a economia para 2016, que apontam para uma desaceleração da atividade. Estima-se um crescimento do PIB de 1,1% em 2016, inferior aos 1,6% registados em 2015, refletindo o menor dinamismo da procura interna e, em particular, do investimento. O valor revê em baixa a projeção do Boletim Económico de junho para o crescimento do PIB em 0,2 p.p. Depois de dois anos em que a evolução do PIB foi semelhante à média da área do euro, projeta-se, assim, uma divergência real da economia portuguesa em 2016, de 0,6 pontos percentuais (p.p.).
As exportações de bens e serviços deverão crescer 3,0% em 2016, abaixo dos 6,1% registados em 2015. Para o menor dinamismo das exportações de bens e serviços deverá contribuir a desaceleração da procura externa, a forte queda das vendas para mercados extracomunitários como Angola e, em menor grau, China, bem como a evolução negativa das exportações de bens energéticos. Não obstante, importa sublinhar o dinamismo das exportações de bens não energéticos, que deverão apresentar em 2016 um crescimento superior ao observado no ano anterior, bem como o forte crescimento das exportações de turismo.
O consumo privado deverá desacelerar de 2,6% em 2015 para 1,8% em 2016, mantendo, ainda assim, um ritmo de crescimento superior ao do PIB.
Projeta-se uma redução de 1,8% na formação bruta de capital fixo, após um crescimento de 4,5% em 2015. Esta evolução traduz a quebra acentuada do investimento público, explicada em parte por efeitos-base considerados nas hipóteses de projeção, uma queda do investimento residencial e uma ligeira redução da FBCF empresarial.
A economia portuguesa deverá apresentar uma capacidade de financiamento, medida pelo défice conjunto da balança corrente e de capital, de 1,3% do PIB em 2016. Este valor representa uma redução de 0,4 p.p. em relação ao ano anterior.
A inflação, medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), deverá, em 2016, situar-se em 0,7 %, o que corresponde a um aumento de 0,2 p.p. em relação ao ano anterior. A projeção para a inflação não se alterou em relação ao valor estimado no Boletim Económico de junho.
Tema em Destaque: Empresas portuguesas no comércio internacional
Para enquadrar os recentes desenvolvimentos das exportações portuguesas, o Boletim Económico inclui um tema em destaque: “Empresas portuguesas no comércio internacional: alguns factos sobre idade, preços e mercados”.
O artigo identifica factos sobre os exportadores e os importadores em Portugal desde o início dos anos 2000 para detetar eventuais alterações estruturais que propiciem saldos positivos na balança de bens e serviços.
O Boletim Económico inclui ainda as seguintes caixas:
Caixa 2.1 | O impacto económico da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit)
Caixa 3.1 | Evolução recente dos preços da habitação em Portugal à luz dos seus fundamentos macroeconómicos
Caixa 3.2 | Reembolsos antecipados no crédito à habitação em 2015
Caixa 4.1 | O braço corretivo do Pacto de Estabilidade e Crescimento e a sua aplicação a Portugal
Caixa 4.2 | A atualização dos objetivos de médio prazo mínimos para o período 2017-2019: o caso português
Caixa 5.1 | A evolução recente do VAB real per capita em Portugal
Caixa 5.2 | Uma caraterização do desemprego de muito longa duração em Portugal
Caixa 5.3 | Produtividade e reafetação do emprego em Portugal
Caixa 6.1 | Evidência microeconómica das decisões de investimento das empresas
Lisboa, 7 de outubro de 2016