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Comunicado do Banco de Portugal sobre o Boletim Económico de março de 2022
A economia portuguesa mantém um perfil de crescimento em 2022-24, num contexto de incerteza acrescida associada ao conflito na Ucrânia. O Produto Interno Bruto (PIB) cresce 4,9% em 2022, 2,9% em 2023 e 2,0% em 2024, beneficiando de maiores recebimentos de fundos da União Europeia e da manutenção de condições financeiras favoráveis. A inflação aumenta em 2022 para 4,0%, em reflexo da subida do preço das matérias-primas e dos constrangimentos nas cadeias de abastecimento globais, e reduz-se para 1,6% em 2023 e 2024.
A invasão da Ucrânia pela Rússia contribui para limitar o dinamismo económico e para intensificar as pressões inflacionistas. O impacto negativo sobre a atividade decorre do agravamento da subida dos preços das matérias-primas, da redução da confiança dos agentes económicos, da turbulência nos mercados financeiros e dos efeitos das sanções comerciais e financeiras impostas à Rússia. As projeções assumem que não se verifica uma escalada do conflito e que o impacto destes fatores e dos constrangimentos de oferta global se dissipam no médio prazo.
Face a dezembro, a projeção para o crescimento do PIB é mais baixa em 0,9 pp em 2022 e 0,2 pp em 2023, permanecendo inalterada em 2024. A revisão em 2022 reflete o menor crescimento no quarto trimestre de 2021 e indicadores mais fracos no primeiro trimestre, devido à quinta vaga da pandemia no final de 2021 e primeiras semanas de 2022 e ao conflito militar, a par da redução do poder de compra devido à inflação e às hipóteses externas menos favoráveis. A inflação foi revista em alta, em particular em 2022 (2,2 pp), refletindo os valores elevados recentes e a revisão em alta das hipóteses para o preço do petróleo e outras matérias-primas.
O crescimento do consumo privado é sustentado pelo aumento do rendimento disponível e por condições financeiras favoráveis. A taxa de poupança reduz-se para 7,3% em 2022 e permanece relativamente estável em 2023 e 2024.
O investimento cresce 7,6%, em média, em 2022-23, beneficiando do aumento dos recebimentos de fundos europeus, das perspetivas de recuperação da procura e da dissipação progressiva dos problemas nas cadeias de fornecimento globais.
As exportações continuam a conjugar a dinâmica favorável da procura externa de bens com a recuperação dos fluxos internacionais de turismo, assumindo-se efeitos limitados do conflito na Ucrânia. As exportações de serviços aumentam 38,5% em 2022 - ultrapassando o valor pré-pandemia durante o primeiro semestre - e apresentam crescimentos mais moderados nos anos seguintes.
A balança corrente e de capital apresenta um défice em 2022 (0,4% do PIB), refletindo a deterioração dos termos de troca. Em 2023 e 2024, volta a registar um excedente, associado à recuperação do turismo e à maior entrada de fundos europeus.
Continua a assistir-se a um aumento do emprego, mas a um ritmo progressivamente menor. A taxa de desemprego diminui para 5,9% em 2022 e de forma mais gradual nos anos seguintes.
Os riscos de repercussões mais significativas do conflito na Ucrânia com a imposição de sanções adicionais sobre a Rússia, novas subidas dos preços das matérias-primas, maior disrupção das cadeias de valor global, uma amplificação da incerteza e das fricções financeiras implicariam um menor crescimento da atividade económica e uma inflação mais elevada.
Neste contexto, as respostas de política económica nacionais e europeias são cruciais para assegurar a manutenção de um crescimento sustentado. É importante que Portugal revele capacidade para absorver os recursos disponíveis do PRR e que estes se materializem num aumento permanente da capacidade produtiva. Para convergir com a União Europeia é também fundamental continuar a aumentar as qualificações da população e a produtividade.