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Comunicado do Banco de Portugal sobre o Boletim Económico de maio de 2022

Em 2021, a economia portuguesa cresceu 4,9%, recuperando parcialmente da queda de 8,4% registada no ano anterior. A recuperação foi marcada pela evolução da pandemia, apresentando um perfil intra-anual diversificado: uma redução da atividade no início do ano – reflexo de uma nova vaga e do confinamento geral –, uma forte recuperação nos dois trimestres seguintes e, no último trimestre, o ritmo de crescimento reduziu-se, devido à adoção de novas medidas de contenção.

A economia cresceu a um ritmo ligeiramente inferior ao da área do euro, após uma redução mais acentuada em 2020. O impacto diferenciado da crise reflete o maior peso de alguns setores de serviços, em particular das exportações de turismo em Portugal. O apoio das políticas económicas revelou-se essencial para a preservação da capacidade produtiva e para a recomposição setorial. 

O mercado de trabalho mostrou-se dinâmico ao longo do ano. O emprego beneficiou das políticas públicas de apoio e manteve-se resiliente durante a pandemia. No final de 2021, o emprego tinha recuperado e o desemprego registou valores inferiores aos de 2019. As remunerações médias por trabalhador aceleraram face a 2020, aumentando 5,5% nos dois anos de pandemia.

As famílias tiveram um aumento do rendimento disponível, o que sustentou a recuperação do consumo. A taxa de poupança das famílias diminuiu de 12,7%, em 2020, para 10,9%, em 2021, mas manteve-se acima da anterior à pandemia (7,2%).

O investimento cresceu acima da média da área do euro. É de assinalar a forte recuperação do investimento das famílias e empresarial, além da manutenção de um contributo importante do investimento público. Os novos empréstimos à habitação às famílias registaram um crescimento elevado (32,8%), num contexto de menor incerteza e de decisões adiadas devidos às restrições sanitárias. As empresas continuaram a beneficiar de condições favoráveis de financiamento, taxas de juro baixas e maturidades mais longas nas linhas de crédito com garantia pública e, até ao final de setembro, das moratórias de crédito.

O défice orçamental fixou-se em 2,8% do PIB, reduzindo-se 3,0 pp face a 2020. Esta evolução reflete a recuperação da atividade económica (1,2 pp), a redução do impacto de medidas temporárias não associadas à pandemia (0,8 pp) e a diminuição das despesas em juros (0,4 pp). O rácio da dívida pública diminuiu para 127,4% do PIB, também auxiliado pelo crescimento nominal da atividade e pela desacumulação de depósitos.

A inflação aumentou para 0,9%, devido principalmente à evolução dos preços dos bens energéticos. As perturbações causadas pela subida dos preços dos produtos energéticos e pela escassez de alguns bens essenciais na atividade económica mundial representam um desafio, com consequências negativas na atividade e, sobretudo, na inflação.

A capacidade de financiamento da economia portuguesa face ao exterior melhorou. O saldo da balança corrente e de capital fixou-se em 0,7% do PIB. O défice da balança de bens deteriorou-se, essencialmente devido à subida de preços dos bens energéticos. O excedente da balança de serviços aumentou ligeiramente, mas o saldo de viagens e turismo é ainda cerca de metade do registado em 2019. O aumento das transferências da União Europeia (UE) impulsionou a melhoria do excedente das balanças de rendimento e de capital.