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Comunicado do Banco de Portugal sobre o Boletim Económico de junho de 2019

O Banco de Portugal publicou hoje o Boletim Económico de junho de 2019. O Boletim atualiza as projeções para a economia portuguesa relativas ao período 2019-2021.

 

Projeções para a economia portuguesa 2019-2021

A economia portuguesa deverá manter a trajetória de expansão até 2021, embora a um ritmo de crescimento inferior ao observado nos últimos anos. Estima-se que, após um aumento de 2,1% em 2018, o produto interno bruto (PIB) cresça 1,7% em 2019 e 1,6% em 2020 e em 2021. A projeção para a evolução do PIB em 2020 foi revista ligeiramente em baixa, reflexo do enquadramento internacional.

Nos próximos anos, a atividade económica em Portugal deverá continuar a beneficiar de um enquadramento económico e financeiro relativamente favorável. O crescimento da economia portuguesa deverá ser, em média, um pouco superior ao do conjunto da área do euro, mantendo o processo muito gradual de convergência real. Ainda assim, em 2021, estima-se que o PIB per capita português se situe em cerca de 60% da média da área do euro, valor ligeiramente inferior ao do início da união monetária.

Entre 2019 e 2021, a expansão da atividade económica deverá assentar no dinamismo do consumo privado, do investimento e das exportações. Tal como em 2018, o contributo da procura interna para o crescimento do PIB será superior ao contributo das exportações, o que se traduzirá num saldo negativo da balança de bens e serviços no horizonte de projeção.

Depois de terem aumentado 3,6% em 2018, as exportações de bens e serviços deverão crescer 4,5% em 2019, apesar da desaceleração da procura externa dirigida à economia portuguesa. Esta subida tem implícitos ganhos adicionais de quota de mercado, associados às exportações de bens não energéticos e de turismo. 

Para 2020 e 2021 projeta-se um crescimento das exportações de 3,1% e 3,4%, respetivamente, uma evolução inferior à observada nos últimos anos, refletindo a maturação do ciclo económico nos principais parceiros comerciais de Portugal e menores ganhos de quota. Após o crescimento significativo dos últimos anos, as exportações de turismo deverão abrandar em 2020-21.

As importações de bens e serviços deverão aumentar 8% em 2019, valor acentuadamente acima da subida de 4,9% verificada em 2018 e influenciado pelo forte crescimento verificado no primeiro trimestre. Nos anos seguintes, o aumento das importações deverá abrandar para um valor em torno de 4,3%.

O investimento deverá continuar a recuperar, com algum abrandamento até ao fim do período de projeção. Depois de um crescimento de 4,4% em 2018, a formação bruta de capital fixo (FBCF) registará aumentos anuais de 8,7%, 5,8% e 5,5% até 2021, ano em que o nível se deverá situar ainda abaixo do verificado antes da crise financeira internacional. Por seu turno, o investimento empresarial deverá atingir o nível pré-crise no final de 2019. Já o investimento público terá um crescimento significativo nos próximos anos, refletindo, em parte, o recebimento de fundos comunitários.

Para o consumo privado, prevê-se uma subida de 2,6% em 2019, depois de crescimentos em torno de 2,4% nos últimos anos. O aumento estimado para 2019 está associado à evolução favorável do rendimento disponível real das famílias, resultante do crescimento do emprego e dos salários nominais, incluindo o salário mínimo, do avanço contido dos preços e das medidas orçamentais com impacto positivo no rendimento familiar. Em 2020 e 2021, o consumo privado desacelerará, apresentando crescimentos de 2% e 1,7%, reflexo do abrandamento do rendimento disponível real.

As projeções apontam para uma redução da capacidade de financiamento da economia portuguesa, em resultado do maior dinamismo das importações face às exportações, o que já se observou em 2018 e se acentuou no primeiro trimestre deste ano. O excedente da balança corrente e de capital, após um período em que se situou em torno de 1,4% do PIB, reduziu-se para 0,4% do PIB em 2018, e antecipa-se uma diminuição para 0,2% do PIB em 2021. Esta evolução exige uma atenção particular, uma vez que o endividamento externo da economia portuguesa permanece num nível elevado e constitui uma das suas principais vulnerabilidades latentes.

O emprego deverá continuar a aumentar, ainda que a um ritmo progressivamente mais moderado, refletindo a maturação do ciclo económico e o aumento das restrições ao nível da oferta de trabalho. Neste quadro, projetam-se crescimentos anuais do emprego de 1,3%, 0,8% e 0,4% até 2021. A taxa de desemprego vai continuar a cair, mas de forma mais lenta, devendo situar-se em 5,3% em 2021. A produtividade do trabalho deverá aumentar, resultado da recuperação do investimento empresarial e da melhor afetação dos recursos na economia portuguesa, no seguimento de um processo de reorientação para os setores mais expostos à concorrência internacional.

Depois de se ter fixado em 1,2% em 2018, a taxa de inflação deverá diminuir para 0,9% em 2019, recuperando gradualmente para 1,3% até 2021. A evolução prevista para os próximos anos tem implícito um aumento gradual da inflação excluindo bens energéticos e variações marginalmente negativas nos preços dos bens energéticos. 

Projeções para a economia portuguesa em junho de 2019

As projeções apontam para a continuação do processo de expansão da economia portuguesa até 2021, embora a um ritmo inferior ao observado nos últimos anos, refletindo a maturação do ciclo económico e constrangimentos a um maior crescimento potencial. Torna-se crucial que sejam criadas condições para um aumento do potencial de crescimento da economia portuguesa, em particular tendo em conta os riscos colocados pelos elevados níveis de endividamento e os desafios associados à evolução demográfica, aos baixos níveis de capital por trabalhador e de qualificação da mão-de-obra e às debilidades no funcionamento de mercados. O aumento do potencial de crescimento da economia portuguesa dependerá da criação de condições que promovam o aumento da produtividade, através de uma melhor afetação de recursos, do bom funcionamento dos mercados do produto e de trabalho e da aposta no capital humano e na inovação. Exigirá, por outro lado, que sejam adotadas medidas para mitigar o impacto macroeconómico da redução e do envelhecimento da população. 

No Boletim Económico são identificados riscos em baixa para a atividade económica em Portugal que refletem a possibilidade de uma evolução menos favorável do comércio mundial.

 

Boletim Económico de junho inclui um tema em destaque: “As alterações demográficas e a oferta de trabalho em Portugal”. 

Boletim inclui ainda três caixas:

  • Caixa 1 | O impacto do programa de aquisição de obrigações de dívida soberana nas taxas de juro de longo prazo na área do euro;
  • Caixa 2 | Perspetivas orçamentais de médio prazo;
  • Caixa 3 | O impacto na economia portuguesa de uma saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo.