Comunicado do Banco de Portugal sobre o Boletim Económico de dezembro de 2022
Após um crescimento de 6,8% em 2022, a economia portuguesa abranda em 2023, para 1,5%, expandindo-se a um ritmo próximo de 2% em 2024 e 2025. O crescimento será contido no primeiro semestre de 2023, num quadro de incerteza global, erosão do poder de compra, aperto das condições financeiras e enfraquecimento da procura externa. A partir da segunda metade de 2023, a atividade acelera, refletindo a expetativa de atenuação das tensões nos mercados energéticos, a recuperação gradual do rendimento real das famílias, uma maior absorção dos fundos europeus e a melhoria do enquadramento externo.
A inflação atinge 8,1% em 2022, reduzindo-se para 5,8% em 2023, 3,3% em 2024 e 2,1% em 2025. Esta diminuição gradual reflete a redução do preço internacional das matérias-primas energéticas, alimentares e outras, bem como menores pressões da procura resultantes de uma política monetária mais restritiva.
O mercado de trabalho mantém um comportamento favorável em 2022, com o emprego a crescer 2,3%. Para 2023-25 projeta-se uma estabilização do emprego e da taxa de desemprego.
A incerteza em torno da projeção é elevada, com riscos descendentes para a atividade e ascendentes para a inflação. O principal risco decorre de repercussões mais adversas da invasão da Ucrânia, nomeadamente a possibilidade de interrupções no abastecimento de gás, levando a cortes na produção e novas subidas dos preços, bem como a uma redução da confiança. Existe ainda o risco de um crescimento mais forte dos salários e das margens de lucro das empresas. A materialização destes riscos implicaria uma maior persistência das pressões inflacionistas, com impactos adversos sobre a atividade.
O consumo privado cresce 0,2% em 2023 e 1%, em média, em 2024-25, após um aumento de 5,9% em 2022. Em 2023, a variação marginal do consumo privado está associada à menor almofada financeira e ao aumento dos preços e do serviço da dívida. A recuperação em 2024-25 reflete a dissipação da incerteza e o crescimento moderado do rendimento disponível real, num quadro de redução da inflação e estabilização das taxas de juro.
O investimento desacelera para 1,3% este ano, projetando-se crescimentos de 2,9% em 2023 e de 4,9%, em média, em 2024-25. O comportamento contido em 2022-23 é explicado pelo contexto de elevada incerteza, restrições da oferta, aperto das condições de financiamento e abrandamento da procura. Nos anos seguintes, a dissipação da incerteza e a melhoria das perspetivas de procura traduzem-se num maior crescimento.
Após um crescimento de 17,7% em 2022, reflexo da forte recuperação da componente de turismo, as exportações crescem em torno de 4% em 2023-25. As exportações de bens deverão crescer 3,5% em 2023 (após 6,3% em 2022) e 4,1%, em média, em 2024-25, em linha com a evolução da procura externa e a manutenção de ganhos de quota de mercado.
A balança corrente e de capital apresenta um défice de 0,6% do PIB em 2022, retornando a um saldo positivo de 1,9%, em média, no período 2023-25.
A redução da inflação é responsabilidade primordial da política monetária, mas deve envolver a coordenação dos vários agentes económicos, para benefício da sociedade. Num contexto de perda de termos de troca da economia – que implica uma perda de rendimento real que deve ser partilhada – é importante a coordenação das expetativas em torno do objetivo de estabilidade de preços do Banco Central Europeu, assegurando que os aumentos dos salários e das margens das empresas não geram pressões inflacionistas persistentes, com consequências negativas para a competitividade e a estabilidade macroeconómica. Adicionalmente, devem evitar-se estímulos orçamentais generalizados.