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22-12-05 - Estatísticas das Empresas Não Financeiras da Central de Balanços

Estatísticas das Empresas Não Financeiras da Central de Balanços

O Banco de Portugal inicia este mês a publicação no Boletim Estatístico de novos quadros com indicadores estatísticos sobre um conjunto relevante de empresas não financeiras portuguesas baseados na informação disponível na Central de Balanços. Com a divulgação desta informação estatística, que passa a constituir o novo Capítulo G do Boletim Estatístico (cfr. Anexo - ver documento associado) (1) , o Banco de Portugal pretende contribuir para um melhor conhecimento da situação económica e financeira do sector das sociedades não financeiras em Portugal.

Os novos quadros baseiam-se nas respostas aos inquéritos trimestral e anual às empresas não financeiras, recebidas e tratadas na Central de Balanços do Banco de Portugal. O inquérito trimestral é realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em parceria com o Banco de Portugal. O inquérito anual é realizado pelo Banco de Portugal. Ambos os inquéritos cobrem um conjunto seleccionado de empresas que abrange todas as actividades económicas com excepção das actividades financeiras, administração pública, famílias e organismos extra territoriais (2) . O inquérito anual é mais completo que o inquérito trimestral, quer pelo número de empresas inquiridas, quer pelo número de variáveis consideradas.

A Central de Balanços do Banco de Portugal contribui, com resultados agregados, para duas bases de dados internacionais: BACH – Bank for the Accounts of Companies Harmonised (com informação de 11 países da União Europeia, Estados Unidos da América e Japão) e Referências Sectoriais Europeias (com informação de 8 países da União Europeia). Em termos comparativos a Central de Balanços do Banco de Portugal apresenta um grau de cobertura bastante elevado.

No Boletim Estatístico, os resultados são apresentados sob a forma de taxas de variação homóloga para um conjunto de indicadores relevantes sobre a situação económica e financeira das empresas seleccionadas. As taxas de variação homóloga correspondem a taxas de crescimento nominal e são apuradas com base na informação das empresas da Central de Balanços comuns em dois anos consecutivos, agregada sem qualquer ponderação. A informação de base corresponde a dados de natureza contabilística, não consolidados (i) acumulados no ano até ao período referenciado, no caso das variáveis de fluxo, e (ii) saldos no final do período referenciado, no caso das variáveis de stock . Os apuramentos são efectuados pelo Banco de Portugal segundo uma metodologia específica e depois de efectuados alguns ajustamentos à informação de base, com vista a assegurar simultaneamente a coerência da informação contabilística e a consistência com critérios estatísticos.

Chama-se a atenção para o facto dos indicadores apresentados não deverem ser interpretados como os resultados globais das empresas não financeiras portuguesas, na medida em que não reflectem qualquer extrapolação sobre os dados individuais da Central de Balanços (3). Os apuramentos efectuados com base nas empresas da Central de Balanços reflectem, antes, as estruturas das amostras, as quais não são coincidentes com a do universo das empresas não financeiras portuguesas. Não obstante a dimensão significativa das amostras, as novas séries estatísticas não devem ser analisadas como facultando informação sobre níveis, mas antes indicadores sobre a evolução das empresas consideradas nas referidas amostras. A informação estatística da Central de Balanços permite obter, com antecipação face às estatísticas publicadas sobre o total do sector das sociedades não financeiras (v.g. Contas Nacionais), uma indicação sobre a evolução de um conjunto coerente de indicadores financeiros e de actividade relativos a um número significativo de empresas.

Os resultados apresentados cobrem, nesta primeira edição, os dados anuais de Dezembro de 2001 a Dezembro de 2004 e os dados trimestrais de Dezembro de 2001 a Junho de 2005. A informação será actualizada trimestralmente, devendo ocorrer nas edições do Boletim Estatístico referentes ao quarto mês após o final de cada trimestre.
 
A informação estatística agora divulgada cobre as seguintes secções: Características da informação da Central de Balanços; Indicadores de actividade; Número de pessoas ao serviço e Remunerações; Activos e Passivos Financeiros; e Rácios. Para alguns indicadores, é disponibilizado detalhe adicional por classes de dimensão das empresas e por principais actividades económicas.

Uma breve análise do conteúdo da informação divulgada, permite salientar os seguintes aspectos:

  • O primeiro conjunto de informação, relativo às Características da informação da Central de Balanços, visa contribuir para a melhor compreensão dos resultados apresentados nas secções seguintes. Com base nos indicadores aqui incluídos, é possível, por exemplo, verificar que o número de empresas comuns em dois anos consecutivos é, em média, mais de 15000, para os dados anuais, e cerca de 2500, para os dados trimestrais. Em 2003, as empresas com dados anuais representavam cerca de 4.7 por cento do número total de empresas não financeiras portuguesas, 36.0 por cento do número de pessoas ao serviço e 59.8 por cento do valor acrescentado bruto (VAB) dessas empresas. Os números correspondentes para as empresas com dados trimestrais eram de 0.8 por cento, 23.3 por cento e 44.1 por cento, respectivamente. O Gráfico I ilustra o grau de cobertura das empresas da Central de Balanços por principal actividade económica, com base no indicador “Vendas e Prestações de Serviços”, o qual reflecte, para o total das empresas, um valor muito semelhante ao do VAB.

 

Gráfico I - Grau de Cobertura em Vendas e Prestações de Serviços (2003)

  • Para além da dimensão significativa das amostras, constata-se ainda que os resultados globais da Central de Balanços tendem a reflectir uma sobre-representação das “indústrias transformadoras” e da “produção e distribuição de electricidade, de gás e de água” e uma sub-representação da “construção” e dos “serviços”. Adicionalmente, em termos de dimensão, todos os indicadores revelam que as grandes empresas se encontram muito bem cobertas pela Central de Balanços, encontrando-se significativamente sobre-representadas nos dados de base trimestral.
  • Os quadros relativos aos Indicadores de actividade apresentam as taxas de variação homóloga nominal para as principais componentes do Valor Acrescentado Bruto (VAB), os Custos com o pessoal, o Resultado operacional, os Custos e perdas financeiros e o Resultado corrente. Estes indicadores podem ser conjugados com a informação sobre as estruturas da Central de Balanços (disponível na secção anterior), permitindo, assim, avaliar os contributos de cada classe de dimensão / principal actividade económica para as taxas de variação homóloga dos indicadores de actividade das empresas da Central de Balanços. Assim, é possível verificar, por exemplo, que a recuperação do VAB em 2004 é notória, quer no segmento das pequenas e médias empresas, quer no das grandes empresas. 
  • A informação relativa ao Número de pessoas ao serviço e Remunerações permite analisar a evolução de alguns indicadores para as empresas da Central de Balanços que apresentam aumento ou manutenção do número de pessoas ao serviço e para as que apresentam diminuição do número de pessoas ao serviço. Neste domínio, é possível verificar que o VAB por empregado, por exemplo, tem sempre um crescimento superior nas empresas com diminuição do número de pessoas ao serviço. Por outro lado, é também disponibilizada informação por classes de dimensão das empresas e principal actividade económica, constatando-se, a título de exemplo, que o sector “serviços” é o único a verificar no período mais recente um crescimento positivo no número de pessoas ao serviço.
  • O quadro dos Activos e Passivos Financeiros apresenta a evolução para as principais aplicações financeiras e formas de financiamento da actividade utilizadas pelas empresas da Central de Balanços. A informação apresentada nesta secção permite globalmente verificar que a evolução dos activos e dos passivos financeiros é muito semelhante, tendo ambos crescido de forma significativa desde o início de 2004. O crescimento dos passivos líquidos de activos financeiros (que são idênticos aos activos não financeiros) voltou a assumir valores positivos a partir de 2004, tendo-se mantido a um nível de crescimento semelhante no primeiro semestre de 2005.
  • Por último, é apresentado um conjunto de Rácios indicativos da rendibilidade, da dívida financeira e dos prazos médios de recebimentos e de pagamentos. Em consequência do apuramento com base nas mesmas empresas do período homólogo, são obtidos dois rácios (em princípio, diferentes) para cada indicador, para um mesmo período de tempo (4) . Considerando o tipo de análise de rendibilidade privilegiado nesta secção, pode, então, observar-se que o endividamento tem favorecido a rendibilidade do conjunto das empresas da Central de Balanços, devido ao diferencial positivo entre a rendibilidade do capital investido e o custo da dívida. De assinalar que o conceito de dívida utilizado envolve apenas os empréstimos bancários e os títulos excepto acções, pelo que é mais restrito do que aquele que é utilizado no rácio do endividamento global das sociedades não financeiras, calculado com base nas Contas Nacionais Financeiras. Quanto aos prazos médios, pode, por exemplo, observar-se que o prazo médio de recebimentos ronda valores ligeiramente superiores a dois meses, sendo de destacar que os prazos médios de recebimentos das “pequenas e médias empresas” são significativamente superiores aos das “grandes empresas” (ver Gráfico II).

Gráfico II - Prazos Médios de Recebimentos - Central de Balanços trimestral

Lisboa, 22 de Dezembro de 2005

(1) Para a melhor compreensão das novas séries estatísticas é fundamental a consulta do Suplemento 5/2005 ao Boletim Estatístico sobre Estatísticas das Empresas Não Financeiras da Central de Balanços, agora publicado, no qual se descreve a metodologia utilizada na produção dos indicadores estatísticos sobre as empresas da Central de Balanços. Adicionalmente, o Caderno dedicado à Central de Balanços, integrado na série de Cadernos do Banco de Portugal, explica com maior detalhe as principais características e o funcionamento da Central de Balanços.

(2) No caso do inquérito trimestral são também excluídas as actividades de “agricultura, produção animal, caça e silvicultura” e “pesca”.

(3) A avaliação global do sector das sociedades não financeiras deverá basear-se nas Contas Nacionais, para as quais contribuem os apuramentos efectuados pelo Banco de Portugal no âmbito das Contas Nacionais Financeiras, com base nos resultados das empresas da Central de Balanços, em conjugação com outras fontes (ver Suplementos ao Boletim Estatístico 2/2005 e 3/2005 sobre as Contas Nacionais Financeiras da Economia Portuguesa).

(4) Por exemplo, para o ano t, teremos um valor do rácio relativo ao conjunto de empresas em amostra constante nos anos t-1 e t e outro para a amostra constante nos anos t e t+1.