21-04-05 - Novos quadros do Boletim Estatístico sobre o crédito concedido às sociedades não financeiras
Novos quadros do Boletim Estatístico sobre o crédito concedido às sociedades não financeiras
O Banco de Portugal inicia este mês a publicação no Boletim Estatístico de um conjunto de novos quadros estatísticos, construídos a partir da informação registada na Central de Responsabilidades de Crédito (CRC), com o objectivo de proporcionar informação com maior detalhe relativamente ao crédito concedido a sociedades não financeiras em Portugal. Estes quadros (cfr. Anexo - ver documentos associados) passam a constituir o Capítulo B.9 do Boletim Estatístico.
Estes novos quadros contêm diversos indicadores relativos ao endividamento, junto do sistema financeiro português, das sociedades não financeiras localizadas no território nacional. Em relação aos dados estatísticos sobre crédito concedido a sociedades não financeiras por IFM (instituições financeiras monetárias), que figuram actualmente no capítulo B.4 do Boletim Estatístico, estes novos quadros acrescentam a parcela de crédito concedido a estas sociedades por IFNM (instituições financeiras não monetárias). Convém precisar que no crédito concedido a sociedades não financeiras não é considerado o crédito concedido a empresários em nome individual.
Os valores apresentados referem-se à situação em final de trimestre e cobrem o período de Dezembro de 2002 a Dezembro de 2004. A frequência de actualização destes quadros será trimestral e deverá ocorrer nas edições do Boletim Estatístico referentes ao segundo mês após o final de cada trimestre.
A informação estatística agora disponibilizada possibilita uma melhor análise dos seguintes aspectos:
- Distribuição do crédito pelas diversas regiões do território nacional;
- Distribuição do crédito por ramos de actividade económica;
- Distribuição do crédito por escalões;
- Peso relativo do crédito vencido por regiões, por ramos de actividade económica e por escalões.
Da observação da evolução dos saldos do crédito é possível confirmar que o crédito às sociedades não financeiras cresceu nos últimos dois anos a um ritmo bastante moderado.
A repartição do crédito por região baseia-se na informação disponível na CRC sobre o concelho onde se situa a sede das sociedades e na agregação das suas responsabilidades de crédito de acordo com este critério. A utilização desta regra de agregação conduz a um desvio face à localização em que o crédito é efectivamente utilizado, nos casos em que a empresa possua estabelecimentos com uma localização distinta da sede da empresa. Não é assim lógico fazer comparações entre a evolução do crédito por regiões e o dinamismo da respectiva actividade económica, que deverá tomar em devida consideração a efectiva localização dos estabelecimentos das empresas, à semelhança do que é feito no cálculo do PIB regional.
A análise da evolução do crédito repartido por ramo de actividade económica, permite concluir que, nos dois últimos anos, os sectores da Construção e das Actividades Imobiliárias foram os que mais contribuíram para o crescimento do crédito às sociedades não financeiras, representando, no seu conjunto, mais de um terço do crédito concedido a estas sociedades. Em sentido contrário, salienta-se o crescimento negativo dos sectores dos Serviços Prestados às Empresas e das Indústrias Transformadoras. Neste último caso, pode observar-se que os principais sub-sectores responsáveis por esta evolução são: Fabricação de outros produtos minerais não metálicos; Indústria têxtil; e Indústrias de pasta, de papel e de cartão e seus artigos, edição e impressão.
Relativamente à análise dos indicadores destinados a caracterizar a repartição do crédito de acordo com uma classificação das empresas em função do seu nível de endividamento junto do sistema financeiro, que se traduz num conjunto de escalões do valor do crédito em dívida no final de cada trimestre, verifica-se, para todo o período em análise que:
- cerca de 60% das empresas têm um endividamento inferior a 50 mil euros;
- o crédito por elas absorvido ronda os 2% do total do crédito concedido às sociedades não financeiras;
- 6% das empresas com maior volume de crédito (acima de 1 milhão de euros) absorvem 79% do crédito àquelas sociedades.
Estes dados evidenciam, pois, a forte concentração na distribuição do crédito concedido a sociedades não financeiras.
Refira-se ainda que o endividamento médio global das empresas situa-se, em Dezembro de 2004, nos 410 mil euros, evidenciando uma trajectória decrescente muito ligeira desde Dezembro de 2002.
No que respeita ao crédito vencido, observa-se uma redução gradual, durante o ano de 2004, do rácio de crédito vencido, entendido como o quociente entre o crédito vencido e o total do crédito concedido. Para o conjunto das sociedades não financeiras, esse rácio passou de 2,3 por cento no final de 2003 para 1,9 por cento no final de 2004, tendo esta redução ocorrido de forma generalizada em todas as regiões do país. Será, ainda, de salientar que as regiões em se registou um crescimento mais acentuado do crédito (Algarve e Madeira) se contam entre as que têm um rácio de crédito vencido mais baixo. Também as regiões de Lisboa e Vale do Tejo e dos Açores têm rácios abaixo da média. Por seu lado, as regiões do Norte, do Centro e do Alentejo apresentam rácios de crédito vencido superiores à média nacional.
No que se refere aos rácios de crédito vencido por ramo de actividade económica, será, em primeiro lugar, de mencionar que a descida global verificada é também observável praticamente em todos os sectores. No entanto, três ramos merecem destaque por apresentarem rácios bastante superiores à média das sociedades não financeiras – Pesca, Agricultura e Indústria Transformadora. Analisando em maior detalhe o ramo da Indústria Transformadora verifica-se que o rácio do crédito vencido é particularmente elevado em alguns ramos tradicionalmente virados para a exportação, como a Indústria Têxtil, Couro e Produtos de Couro e, em menor grau, as Indústrias da Madeira e Cortiça.
Relativamente à evolução do crédito vencido em função dos escalões de endividamento, importa salientar o facto de os indicadores respectivos terem decrescido ao longo do período em análise, em todas as classes, com excepção da percentagem de sociedades do escalão de crédito inferior a 20 mil euros. Por último, é também de assinalar que quanto maior o volume do crédito em dívida, menores são os rácios sobre crédito vencido, podendo pois inferir-se que a taxa de incumprimento está relacionada inversamente com a dimensão da empresa.
Para maior detalhe sobre o funcionamento da CRC e sobre a utilização estatística que é feita dos dados recolhidos, deverá consultar-se o Caderno n.º 5 do Banco de Portugal e o Suplemento ao Boletim Estatístico de Abril de 2005 (ver informação relacionada).
Lisboa, 21 de Abril de 2005