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Artur Virgílio Alves Reis (Lisboa, 1896-09-08 - Lisboa, 1955-07-09)

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Artur Virgílio Alves Reis (Lisboa, 1896-09-08 - Lisboa, 1955-07-09)

Detalhes do registo

Nível de descrição

Fundo   Fundo

Código de referência

PT/BP/AVAREIS

Título

Artur Virgílio Alves Reis (Lisboa, 1896-09-08 - Lisboa, 1955-07-09)

Datas de produção

1912-11-30  a  1925-12-07 

Dimensão e suporte

10 Livros e 3 Caixas ; 47 Centímetros ; Papel

Entidade detentora

Banco de Portugal

História administrativa/biográfica/familiar

Artur Virgílio Alves Reis (Lisboa, 08 de Setembro de 1896 – Lisboa, 09 de Julho de 1955) foi um famoso burlão português que, em 1925, ficou associado ao crime de falsificação das notas de 500$00, Efígie Vasco da Gama, no denominado processo "Angola e Metrópole". Além disso, também foi o autor de inúmeras falsificações de documentos e assinaturas, comprou ações de forma ilegal e passou cheques sem cobertura. Nascido no seio de uma família modesta, Artur Alves Reis quis estudar engenharia. Começou o primeiro ano do curso, mas abandonou-o para casar, a 28 de Agosto de 1916, em Lisboa, com Maria Luísa Jacobetty de Azevedo (1895-1951), de quem teve três filhos: Guilherme Joaquim, Luís Filipe e José Luís Alves dos Reis.Nesse mesmo ano de 1916, emigrou para Angola, para tentar fazer fortuna e assim escapar às humilhações que lhe eram impostas pela abastada família da esposa, devido à diferença de condição social existente entre ambos. Começou como funcionário público nas obras públicas de esgotos. Para ir para Angola, fez-se passar por engenheiro, depois de ter falsificado o diploma de uma escola politécnica de engenharia de Oxford, que não existia: a Polytechnic School of Engineering. De acordo com esse diploma falsificado, teria estudos de ciência da engenharia, geologia, geometria, física, metalurgia, matemática pura, paleografia, engenharia elétrica e mecânica, mecânica e física aplicadas, engenharia civil geral, engenharia civil e mecânica, engenharia geral, design mecânico e civil. Ou seja, fazia de Alves Reis um homem superdotado. Com um cheque sem cobertura, comprou a maioria das ações da Companhia dos Caminhos de Ferro Através de África. Tornou-se rico e ganhou prestígio. De volta a Lisboa, em 1922, estabeleceu-se com uma empresa de revenda de automóveis americanos. Depois, tentou apoderar-se da Companhia de Ambaca. Para o conseguir, passou cheques sem cobertura e usou depois o dinheiro da própria sociedade para cobrir os cheques sobre a sua conta pessoal. No total, apropriou-se ilegitimamente de 100 mil dólares americanos. Com esse dinheiro comprou também a Empresa Mineira do Sul de Angola (EMSA). No entanto, antes de conseguir controlar toda a sociedade, foi preso em Julho de 1924, por desfalque e tráfico de armas. Durante os 54 dias em que esteve preso - foi libertado a 27 de Agosto de 1924 por pormenores processuais -, concebeu o seu plano mais ousado: falsificar um contrato em nome do Banco de Portugal, o banco central emissor de moeda, de forma a obter notas ilegítimas, mas impressas numa empresa legítima, com a mesma qualidade das verdadeiras.Em finais de 1924, Alves Reis juntamente com vários cúmplices e outros colaboradores de boa-fé colocou o seu plano em marcha. Entre os seus cúmplices e colaboradores encontrava-se o financeiro holandês Karel Marang van Ysselveere, o espião alemão Adolph Hennies, Adriano da Costa e Silva, Justino de Moura Coutinho, Manuel da Silva Roquette, Manuel Festas, Francisco e António Ahrens Novais e, especialmente, José Bandeira. Este último era irmão de António Bandeira, o embaixador português em Haia.Alves Reis preparou um contrato fictício e conseguiu que este contrato fosse reconhecido notarialmente. Através de José Bandeira, obteve também a assinatura de António Bandeira. Conseguiu ainda que o seu contrato fosse validado pelos consulados de Inglaterra, da Alemanha e de França. Traduziu o contrato em francês e falsificou as assinaturas dos administradores do Banco de Portugal. Através de Karel Marang, dirigiu-se a uma empresa de papel-moeda holandesa, mas esta remeteu-os para a empresa britânica Waterlow & Sons, Limited, de Londres, que era a casa impressora do Banco de Portugal. Cartas do Banco de Portugal para a Waterlow & Sons, Limited foram também falsificadas por Alves Reis. No caderno de encargos de impressão das notas, estipulava-se que estas viriam a ter posteriormente a sobrecarga Angola, destinadas também a circular aí, visto o alegado objetivo das notas era a concessão de um grande empréstimo para o desenvolvimento de Angola. Por essa razão, as notas tinham números de série de notas já em circulação em Portugal.Waterlow & Sons, Limited imprimiu 200 mil notas de 500$00 escudos (no total, quase 1% do PIB português de então). O número total de notas colocadas a circular ilegitimamente era quase tão elevado como o de notas legítimas. As notas passavam de Inglaterra a Portugal com a ajuda dos seus cúmplices, José Bandeira, que utilizava as vantagens diplomáticas do seu irmão, e de Karel Marang, que possuía ligações ao cônsul da Libéria, em Londres. Alves Reis, embora o mentor da fraude e o falsificador de todos os documentos, ficava só com 25% das notas. Esse dinheiro serviu para fundar o Banco de Angola e Metrópole (BAM), em Junho de 1925. Para obter o alvará de abertura deste banco junto do Conselho do Comércio Bancário, recorreu mais uma vez, a diversas falsificações. Comprou também o Palácio do Menino de Ouro (atualmente o edifício do British Council, em Lisboa) ao milionário Luís Fernandes, adquiriu três quintas e uma frota de táxis. Além disso, gastou uma importante soma em jóias e roupas caras para si e para a sua mulher, tendo também adquirido dois dispendiosos automóveis, um para si e outro para José Bandeira, tendo ainda tentado comprar o Diário de Notícias. Investiu na bolsa de valores e no mercado de câmbios. Com a aquisição de ações do Banco de Portugal, tentava controlar o próprio Banco, de forma a encobrir as falsificações e abafar qualquer investigação que surgisse. No final de Novembro de 1925, já era detentor de 10.000 ações do Banco de Portugal. Seriam necessárias 45.000 ações para o controlo do banco central.A partir de 23 de Novembro de 1925, Alves Reis e os negócios pouco transparentes do Banco de Angola e Metrópole começaram a atrair a curiosidade dos jornalistas de "O Século", o mais importante diário português de então, uma vez que o BAM concedia empréstimos a taxas de juro baixas, sem precisar de receber depósitos. A burla é publicamente revelada em 5 de Dezembro de 1925, no Porto. O património do BAM foi confiscado e obtidas provas junto da Waterlow & Sons, Limited. Alves Reis é preso a 6 de Dezembro, quando se encontrava a bordo do vapor "Adolph Woerman", regressado de Angola. Tinha 27 anos no momento da prisão. Adolph Hennies, que estava consigo, fugiu. A maior parte dos seus associados foram também identificados e presos. Burlas, falsificações e desfalques foram três crimes que Alves Reis cometeu para conseguir uma fortuna. A sua mulher, Maria Luísa Jacobetty de Azevedo, foi presa um ano mais tarde, em Agosto de 1926, tendo sido condenada ao pagamento de 5000 contos pelas jóias compradas com as notas ilegítimas.Alves Reis somente foi julgado, em Lisboa, no Tribunal de Santa Clara, em Maio de 1930, tendo sido condenado a 20 anos: 8 de prisão e 12 de degredo ou, em alternativa, 25 anos de degredo. Durante o julgamento, alegou que o seu objetivo era simplesmente desenvolver Angola. Foi libertado em Maio de 1945. Morre a 09 de Julho de 1955, aos 58 anos, sem fortuna, na sua casa, em Lisboa.

História custodial e arquivística

Documentação proveniente do denominado "Processo Angola e Metrópole", que envolveu o Banco de Angola e Metrópole, o burlão Artur Virgílio Alves Reis e os seus cúmplices. Por força dos processos cível e crime movidos contra os vários intervenientes, e a consequente liquidação do Banco de Angola e Metrópole, a documentação do banco e das diversas empresas detidas e geridas por Alves Reis foi arrolada como matéria de prova. Pela extinção da Comissão Liquidatária, e a promulgação do Decreto nº 20201, de 12 de Agosto de 1931, todas as operações e demais situações pendentes de liquidação foram transferidas para o Banco de Portugal, passando a documentação do Banco de Angola e Metrópole, das empresas satélites deste e a documentação produzida pela Comissão Liquidatária a integrar o espólio documental do Banco de Portugal.

Fonte imediata de aquisição ou transferência

Incorporação

Sistema de organização

Alfabético e cronológico

Idioma e escrita

Português, francês, inglês e alemão

Existência e localização de cópias

Nenhuma

Unidades de descrição relacionadas

PT/BP/AREIS - Alves Reis, Lda.; PT/BP/BAM - Banco de Angola e Metrópole; PT/BP/EMSA - Empresa Mineira do Sul de Angola; PT/BP/FFJ - Francisco Augusto Ferreira Júnior; PT/BP/FTBAT - Francisco Augusto Trindade Batista; PT/BP/JSB - José Silva Bandeira; PT/BP/MF - Manuel Festas; PT/BP/PPM - Pedro Paulo de Mello

Notas

Documentação pessoal de Artur Virgílio Alves Reis.